Belém 06 de Setembro de 2009 BUSCA:
“O PMDB tem comportamento fisiológico”
BRASÍLIA
Da Sucursal
O desabafo de que a maior parte do PMDB é corrupta custou ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) isolamento entre seus pares no Congresso Nacional. Mas, se entre os caciques do maior partido do Brasil a reação foi a de mostrar indiferença às acusações, como forma de enfraquecer a metralhadora do ex-governador pernambucano, entre a sociedade as manifestações foram, sobretudo, de indignação. Anestesiada pela normalidade em que se tornaram os escândalos de corrupção envolvendo peemedebistas, a opinião pública se surpreendeu com a revolta externa por alguns segmentos da própria legenda. Sem medir palavras, o senador foi contundente ao dizer que os seus companheiros só pensam em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. O que pareceu ser apenas um momento de decepção com a política do partido foi, na verdade uma tentativa frustrada de reerguer o PMDB. De acordo com o senador, a 'situação do partido é deplorável' e 'são muito poucos os que têm compromisso com a correção, com a ética e com a moral'. 'O PMDB há muito tempo deixou de ser um partido político, na ampla acepção da palavra. Hoje, é um aglomerado de lideranças regionais, como tem o PMDB do Pará, de Pernambuco...'. Em entrevista exclusiva ao repórter Thiago Vilarins, da Sucursal de Brasília, Jarbas Vasconcelos volta a disparar contra os caciques do partido que, segundo ele, tornaram tradicional no PMDB o 'comportamento fisiológico único do toma-lá-dá-cá'. Ele acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o grande 'alimentador' dessa linha que tomou o partido, mas revela que, na ânsia de ter o partido do seu lado, o próprio Lula se tornou o 'grande refém do PMDB'. A seguir a entrevista.
O senhor, que é um dos fundadores do PMDB, acusou a maioria dos integrantes do partido de corruptos. No que esse PMDB de hoje se assemelha com aquele criado para combater a ditadura?
Em nada. O PMDB há muito tempo deixou de ser um partido político, na ampla acepção da palavra. Hoje é um aglomerado de lideranças regionais, como tem o PMDB do Pará, o PMDB de Pernambuco, o PMDB de Alagoas, o PMDB do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de São Paulo... E uma grande maioria do partido fez uma opção pelo fisiologismo e apoia qualquer governo. Assim como apoiou Itamar Franco, como apoiou Fernando Henrique Cardoso e está apoiando, agora, o Lula. Só que com o Lula foi uma coisa desbragada. Foi uma composição feita em cima do que há de pior no Congresso Nacional, em especial na Câmara dos Deputados. Resultado, o PMDB hoje é isso que a gente está vendo aí. Enquanto estou te dando esta entrevista, o PMDB está parando as votações na Câmara para pressionar a liberação das emendas orçamentárias. Então, esse é o comportamento do PMDB, é um comportamento fisiológico do toma-lá-dá-cá, alimentado, fundamentalmente, pelo presidente Lula.
E foi no governo Lula que o partido abandonou de vez os seus ideais?
Já faz mais de dez anos que o partido não busca com seriedade um candidato à presidência da República. É um partido dividido. E nessa divisão a maioria fica com quem vai ganhar a eleição. Foi assim, por exemplo, nas duas últimas eleições de Lula: uma parte ficou com Serra e outra parte ficou com o Lula. Durante o seu primeiro mandato, Lula tentou fazer isso, mas não conseguiu. No segundo, ele estabeleceu como meta, objetivo principal buscar essa aliança com o PMDB, e formalizou. Hoje, quer queira ou não, Lula é um refém do PMDB.
Por isso é que o senador Sarney se mantém na presidência da Casa?
Com certeza. Essa é toda a situação. O Lula foi quem salvou o Sarney, foi quem disse que o Sarney estava acima do bem e do mal, que era uma pessoa incomum. Trouxe um desgaste muito grande. A gente já estava perto de resolver a situação, o Sarney queria entregar a presidência e o Lula foi quem o salvou. Aí, o PMDB aqui dá esse espetáculo degradante de comissões técnicas, como Comissão de Justiça, agora o Conselho de Ética. A oposição fez muito bem em ter se retirado do Conselho de Ética, porque aquilo é uma farsa, não é um conselho de ética coisa nenhuma.
O senhor está isolado no partido?
Completamente, há algum tempo esse isolamento é grande. São muito poucos os que têm compromisso com a correção, com a ética e com a moral.
Causa constrangimento fazer parte do PMDB? Por que o senhor continua no partido?
É um transtorno, é um desconforto pertencer ao PMDB hoje. Mas eu luto por uma reforma política decente, que tenha fidelidade partidária, que acabe com as coligações de eleições proporcionais, que estabeleça cláusula de desempenho, financiamento público de campanha. A gente podia até pensar em uma outra agremiação, mas eu não tenho interesse em sair do PMDB para ir para um desses partidos constituídos. A situação do PMDB é deplorável. Eu sou um daqueles que não acreditam que ele (PMDB) vá ficar, oficialmente, com o Lula. Porque a candidatura do Serra tende a crescer e o partido vai rachar, uma parte com o Serra e outra com a Dilma; se ela for mesmo a candidata do Lula, hoje eu tenho minhas dúvidas! Então, o PMDB vai repetir o mesmo exemplo que vem praticando nesta última década, nos últimos dez anos: vai deixar o partido livre para votar em quem quiser.
O senador Pedro Simon chegou a declarar a O LIBERAL que se envergonha de pertencer a um partido como o PMDB, que tem comando políticos como José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho. O senhor concorda com essa opinião?
Eu não tenho nenhuma referência com eles. Não devo satisfações à Executiva Nacional, às lideranças e a nenhum deles. Estou de outro lado. O Pedro Simon fez essa declaração a vocês agora, mas há muito tempo já fiz essa constatação. E declarei publicamente, lá atrás.
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Fonte: O Liberal
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