Nas ruas esburacadas de Itaituba, quase
sempre de terra batida, o esgoto corre dia e noite pelas canaletas cobertas de
lodo e lixo. Água tratada não existe – na melhor das hipóteses, há uma fonte
próxima da cidade onde as pessoas carregam galões de água para passar a semana.
A saúde pública é precária e a segurança, deficiente.
Com a infraestrutura abandonada, insuficiente para dar conta dos cerca de 100
mil habitantes, a população teme uma deterioração ainda maior com a chegada de
grandes obras, em especial a construção do Complexo Hidrelétrico do Rio
Tapajós. São cinco usinas estudadas na região, com capacidade para 12,5 mil
megawatts (MW). A primeira será São Luiz do Tapajós, de 8.040 MW e que custará
entre R$ 18 bilhões e R$ 25 bilhões.
Depois virá Jatobá (2.338 MW), de R$ 5,1
bilhões. As demais estão em fase preliminar. Juntas, elas vão transformara
região num canteiro de obras, pelo menos por duas décadas. Mas, ao contrário de
cidades que receberam grandes empreendimentos, Itaituba não se comove com as
cifras bilionárias. Há anos o sonho de desenvolvimento virou ilusão. Primeiro
com o ciclo da borracha, seguido pelo garimpo e a abertura da lendária BR-230,
mais conhecida como Transamazônica, que corta a cidade.
O município colheu poucos benefícios e muito
inchaço populacional – a última grande obra foi a orla do Tapajós, que virou
uma das principais áreas de lazer da população, com restaurantes e quiosques.
Agora, com a iminência da construção de São Luiz do Tapajós, eles estão
escaldados com a promessa de melhorias. A fama do caos das últimas construções,
como as usinas do Rio Madeira e Belo Monte, também ajuda a aumentar a rejeição.
“Vai acontecer aqui o mesmo que ocorreu em Tucuruí e Altamira. Não temos
infraestrutura nem para os moradores que aqui estão. Imagina para mais 80 mil
pessoas.
Vai virar um caos”, diz o presidente da
Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaituba (CDL), Davi de Oliveira Menezes, que
vive na cidade desde os 10 anos. Ele reclama dos levantamentos do Grupo de
Estudos do Tapajós – formado pela Eletrobrás, Eletronorte, EDF, Camargo Corrêa,
Cemig, Copel, GDF Suez, Endesa Brasil e Neoenergia –, que estariam fora da
realidade. “Neste momento, ser contra ou a favor da hidrelétrica não importa.
Queremos que as compensações e Mitigações
ocorram antes das obras da usina, antes que as pessoas comecem a chegar.” No
governo, a expectativa é leiloar São Luiz do Tapajós ainda este ano.Os estudos
de viabilidade técnica e econômica já foram entregues para análise da Agência
Nacional de Energia Elétrica ( Aneel). O próximo passo é concluir os Estudos de
Impacto Ambiental (EIA-Rima) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA).
“Estamos ansiosos para conhecer os estudos e verificar quais os impactos que o
empreendimento trará para a região. Nossa preocupação é adotar medidas para
mitigar os impactos ambientais que serão causados ao parque (Nacional da
Amazônia)”, afirma o diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da
Biodiversidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), Marcelo Marcelino.
Pelos últimos dados, o reservatório da usina
vai alagar 722 quilômetros quadrados( km²)– o equivalente a cerca de 66 mil
campos de futebol. Antes de 2012, parte da represa atingia áreas de preservação
ambiental. Mas, com uma medida provisória (MP 558, convertida em lei), a
presidente Dilma Rousseff alterou os limites dos Parques Nacionais da Amazônia,
dos Campos Amazônicos e Mapinguari, das Florestas Nacionais de Itaituba I,
Itaituba II e do Crepori e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós.
Sem isso, nenhuma pesquisa poderia ter sido iniciada,
diz Marcelino. Segundo ele, ainda não se sabe que tipo de impacto a usina trará
para a região, que ainda é pouco conhecida (o Tapajós não tem nenhuma
barragem). “Mas ali é uma área de pedrais com uma Fauna associada a isso. Como
a vazão e a velocidade do rio vão mudar, essa Biodiversidade pode se perder.
Nosso objetivo é evitar esse prejuízo.” Além disso, há aldeias indígenas no
entorno de onde será construída São Luiz do Tapajós. O cacique Ikõ Biaptu, da
Aldeia do Mangue, em Itaituba, está preocupado com uma comunidade que será
alagada. Ele diz que não é contra o desenvolvimento, mas alerta: “Nossa lei
maior é a lei da sobrevivência. Estamos preparados para tudo o que vier”.
Investimentos
R$ 25 bi é o valor máximo previsto para a
usina de São Luiz do Tapajós, que vai produzir 8.040 MW R$ 5,1 bi é o valor
previsto para a usina de Jatobá
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