quinta-feira, 10 de junho de 2010

Entrevista Deputado Federal Zequinha Marinho

Zequinha Marinho: “Só é contra a divisão quem não

conhece nossa dura realidade”

O projeto de lei aprovado para entrar na pauta de votação do Senado Federal que determina a realização de um plebiscito para a criação do Estado do Carajás, ganhou novo fôlego. Um dos parlamentares mais envolvidos no projeto, o deputado federal Zequinha Marinho, concedeu uma entrevista exclusiva ao O Independente, falando entre outros pontos, dos próximos passos até a criação do Carajás. Zequinha também fez críticas aos políticos da sociedade que se posicionam contrários ao Carajás dizendo que não conhecem a realidade da população do sul e sudeste do Estado.

J.I: De certa forma a aprovação do plebiscito pegou muita gente de surpresa e provocou a reação dos que são contrários ao projeto. Como o Sr. encarou isso ?

Zequinha Marinho: A imprensa da capital sempre usou o argumento de que a gente só entrava nessa discussão em tempos de eleição, porém, essa afirmação caiu por terra, pois neste ano não há influência de nada disso. Esse projeto não é um projeto de hoje e nem de ontem, ele existe há 17 anos e se fosse eleitoreiro já teria falido. A aprovação do plebiscito é um sinal da seriedade do projeto. As regiões sul e sudeste não podem mais esperar. A ausência do poder público estadual nessas regiões nos faz viver em uma realidade cruel. Essa é a nossa hora.

J.I : Além da imprensa da capital, mais precisamente o jornal O Liberal, que há anos faz uma campanha contra a divisão do Estado, existem muitos parlamentares, entre eles, o deputado Zenaldo Coutinho que lidera uma frente parlamentar pela não divisão. Até que ponto isso tem atrapalhado o processo?

Zequinha Marinho: Aqueles que são contra não têm argumentos quando escutam as críticas que fazemos em relação à ausência do poder público na região, e terminam admitindo as necessidades do povo. Hoje temos poucos radicais, entre eles, o deputado Zenaldo Coutinho que formou uma frente parlamentar pelo fortalecimento dos municípios e nesse bojo levantou uma campanha contra a criação de novos estados. Eu até sinto muito pelo colega, mas esse projeto de fortalecimento é para 390 anos e não tem fôlego. Como fortalecer os municípios se não há estradas, não há pontes, a educação é de péssima qualidade e as condições de vida são ruins?! A gente anda pelo sul do Pará e não consegue ver a presença do governo. Quanto ao Jornal O Liberal, eu gostaria de dizer que esse jornal está prestando um desserviço ao Estado, pois a divisão vai contribuir com o Pará de uma forma ou de outra. Ao invés de defender seus interesses, esse jornal poderia mostrar a dura realidade dos municípios dessas regiões esquecidas pelo governo.

J.I: Outro argumento usado por quem é contra a divisão é o fato de que um novo Estado acarretará em novos e grandes gastos.

Zequinha Marinho: Mais é claro que a criação de um novo Estado implica gastos, mas hoje o Estado do Pará representa mais gastos do que resultados para a sociedade. Basta avaliarmos a situação da educação, saúde e outras áreas do governo para vermos que hoje, o custo da máquina do Pará inviabiliza o beneficio. A diferença do Estado novo é que ele nasce enxuto e a relação custo benefício é algo infinitamente favorável. Gasta-se muito pouco e obtém-se um resultado extraordinário. Quem usa esse discurso está desprovido de inteligência. Não estamos reinventando a roda, mas sim modernizando um processo. Os novos Estados nunca foram inviabilizados por isso, por exemplo: São Paulo foi dividido e surgiu o Paraná; do Matogrosso criou-se o Matogrosso do Sul; o Tocantins saiu do Goiás. Todos estão aí, fortes e crescendo cada vez mais.

J.I : Mesmo sendo uma decisão de Brasília, os deputados estaduais são aliados importantes nesse processo. O sr. sente resistência da bancada estadual?

Zequinha Marinho: Essa situação já foi muito ruim, mas hoje não é mais. O lado bom é que os parlamentares estaduais, com base na capital, passaram a andar mais pela região devido ao debate político, e isso tem feito com que eles conheçam melhor o sul e sudeste. Em função desse conhecimento a situação na Assembléia do Estado melhorou sensivelmente e quem realmente conhece a nossa realidade não é contra. Na Câmara dos deputados federais e no Senado é da mesma forma. Outro fato interessante foi a declaração do presidente da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará), José Conrado Santos, que foi muito corajoso ao dizer que é importante ouvir todos os lados e conhecer a vontade do povo.

J.I : São pouquíssimos os paraenses que conhecem o sul e o sudeste do Estado o que termina provocando uma reação contrária da parte deles. Isso também atrapalha?

Zequinha Marinho: O grande problema é que esse pessoal que é contra a divisão não conhece nossa região. Um dia desses um funcionário público que mora em Belém me dizia que conhecia o sul do Pará, eu perguntei até onde ele conhecia. Fiquei chocado com a resposta: “Conheço de Belém até Tailândia”. Quer dizer, isso mostra o quanto as pessoas que moram na região metropolitana de Belém estão desinformadas”.

J.I: Mas a divisão fere vários interesses, e muitos acham que a parte de lá (norte) vai ficar enfraquecida.

Zequinha Marinho: Não existem interesses obscuros, existe na verdade um sentimentalismo, de quem mora na região que continuará sendo o Pará, eles acreditam que se houver a divisão o Estado vai ficar mais fraco. A corrente pela não divisão lembra muito o modelo feudal, onde o poder era representado pela quantidade de terras que a pessoa possuía. Aquela mentalidade ainda continua sendo vista na atitude de muita gente para quem o Pará tem que ser grande. O Estado tem que ser grande sim, mas não em extensão territorial, pois está provado que isso só deixa a Estado mais fraco. O que a população quer é qualidade de vida, e não quantidade territorial. Nesse aspecto, nem sempre quem é maior é melhor. Temos um exemplo claro no Japão que possui 377 mil quilômetros de extensão, área menor que o Carajás, no entanto, o Pais é a segunda economia do planeta.

J.I: Qual é a situação real do projeto hoje? Depois do plebiscito,o que falta para que o Estado seja criado? È possível prever uma data para a votação?

Zequinha Marinho: Com a aprovação do plebiscito, o processo teve um importante avanço. Apesar da constituição dizer que serão ouvidos apenas os moradores da área interessada, a legislação aprovada pelo congresso no ano de 1998 que dá uma nova interpretação desse texto diz que é necessário ouvir a população de todo o Estado. Mas entendemos que essa lei foi criada para atender interesses que fogem daquilo que o povo quer. Não há como precisar uma data, mas estou otimista que ainda nesse semestre a gente consiga votar no plenário do Senado e no plenário da Câmara. Depois que conseguirmos aprovar o projeto e ele for sancionado pelo presidente do congresso, o T.R.E terá seis meses para realizar a consulta popular e se tudo correr bem, até o fim do primeiro semestre de 2008 passaremos à etapa de aprovação da criação do Estado.

J.I.: Como a bancada favorável ao projeto pretende ganhar apoio da maioria?

Zequinha Marinho: Estamos num parlamento de quase seiscentas pessoas que representam interesses distintos de toda a sociedade. Não é fácil caminhar na mesma direção. Pretendemos atuar junto à bancada do governo e mesmo que o governo não queira apoiar, que pelo menos libere para que cada um vote de acordo com a sua vontade.

AGÊNCIA O INDEPENDENTE/PA

Nenhum comentário:

Postar um comentário