Resistir à destruição dos povos e do rio Tapajós,
foi motivo de uma ação político religiosa,
ocorrida em São Luiz do Tapajós, em novembro passado. Várias caravanas
chegadas pelo rio e pelas estradas reuniram cerca de 700 militantes em
demonstração dessa resistência ética. Estavam lá, dezenas de Munduruku, dezenas
de comunidades ribeirinhas, três bispos da Amazônia, movimentos sociais das
cidades tapajônicas, além de cinegrafistas e jornalistas nacionais e
internacionais.
O governo Dilma Rousseff por seu lado,
continua obstinado em destruir o rio e
os povos ali vivendo, para gerar energia mercadológica com hidroelétricas, que
ela e seus comandados de ontem e de hoje chamam de energia limpa, ignorando
intencionalmente os estudos de cientistas como Philip Fernside do INPA, Célio
Bermann da Universidade de São Paulo, entre outros. O governo não revela a
mínima intenção de dialogar seriamente com os povos tradicionais a serem
afetados pelas hidroelétricas. A qualquer sinal de resistência local, ou pagam
empresas sem ética para iludir os comunitários ameaçados, de se cadastrarem
para serem compensados, quando as barragens chegarem. Ou enviam militares da
força nacional com metralhadoras e helicópteros para ameaçar os resistentes.
Um exemplo dessa arbitrariedade governamental
é a recente declaração do presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho, ao
jornal Estado de São Paulo (12.01.15). Ele afirma que a Eletrobrás está
chegando a um acordo que garanta a construção da hidroelétrica em São Luiz do
Tapajós. O tal acordo a que ele se refere, é para realizar o leilão da
construção da barragem ainda no primeiro semestre deste ano.
Tal acordo está sendo costurado e tem como
parceiros, o IBAMA e a FUNAI. Sem a menor cerimônia ou pudor, o sr. José
Carvalho diz textualmente que “temos procurado entendimento com todas as
autoridades ambientais, de tal maneira que a gente viabilize esse
empreendimento o mais rápido possível...”. Assim, as cinco mil famílias
ribeirinhas, os 12 mil Munduruku que vivem nas 110 aldeias da região
tapajônica, os movimentos sociais, as igrejas e até as fracas autoridades
municipais não foram chamadas ao acordo. Todos estes serão impactados caso as
barragens sejam construídas, mas não são parceiros, nem autoridades ambientais
para a Eletrobrás.
Nunca antes neste país um governo dito
democrático utilizou a mesma lógica das ditaduras militares. Utiliza a
arbitrária suspensão de segurança, quando surge um processo legal que tenta
mostrar a inviabilidade das hidroelétricas; viola a Constituição Nacional, como
foi a Medida Provisória para cortar 10 mil hectares do Parque Nacional da
Amazônia; ignora a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, OIT
para evitar a consulta prévia aos povos indígenas e ribeirinhos.
Porém o governo federal, com toda sua
arrogância e uso de armas, não fará no Tapajós o que fez em outros rios Uma
consciência de respeito ao precioso dom da natureza que é o rio Tapajós e seus
povos, está crescendo nas cidades, nas comunidades, nas igrejas e nos
movimentos sociais. Como disse o jovem
Munduruku – “nós não queremos guerra, mas não aceitamos hidroelétricas
que destroem nossas vidas. Só sobre nossos cadáveres eles farão essas
barragens.” Também um grande sentimento de resistência está crescendo entre os
ribeirinhos, Igreja e movimentos sociais das bacia do Tapajós. Não aceitam que
este belo e rico rio seja destruído para gerar energia elétrica suja para a
região. E vão resistir, a ação político
religiosa ocorrida em novembro passado foi um sinal. Muitos que não puderam
estar lá ouviram falar e desejaram se engajar na defesa da vida do rio e dos
povos.
Para 2015, enquanto a Eletrobrás pensa em acordos espúrios para realizar leilão de construção
da barragem, os movimentos sociais organizam uma estratégia de resistência que
começará com um grande ato público de sensibilização e resistência no próximo
dia 22 de março, dia internacional das águas. Será um ato público em cadeia em
seis cidades tapajônicas: Itaituba, Jacareacanga, Trairão, Rurópolis, Aveiro,
Belterra e Santarém. Os movimentos sociais com apoio da Igreja, vão lotar praças e ruas das cidades ao mesmo
tempo, com cobertura dos meios de comunicação social. O grito será forte de
união de consciências a dizer “Este rio é nossa vida, fora hidroelétricas
assassinas!” Os e as defensoras do rio Tapajós querem fazer seu grito chegar
aos ouvidos da presidente Dilma, a dizer que ela, pelo fato de ser presidente
da república não tem direito de impor hidroelétricas na Amazônia, sem escutar e
respeitar os povos que aqui vivem.
Mas não será apenas mais uma ação de ruas e
praças. A resistência continuará com novas ações durante o ano. É preciso
que os e as brasileiras do nordeste e do
sul do Brasil se unam aos povos do Tapajós, a fim de barrar esses projetos
destruidores das vidas para gerar mercadoria energética. Se a presidente pediu
apoio e votos dos povos indígenas e dos movimentos sociais para ser eleita,
agora é hora de honrar sua palavra e escutar o grito dos povos que tem direitos
de vida e dignidade, como tem as empresas de buscar seus lucros. O Tapajós é
nossa vida.
Edilberto Sena
Coordenador da Comissão Justiça e Paz Diocese
de Santarém
Membro do Movimento Tapajós Vivo – janeiro 2015
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