sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

ELES NÃO ABREM MÃO DAS HIDROELÉTRICAS, MAS NÓS NÃO ABRIMOS MÃO DO RIO TAPAJÓS


Resistir à destruição dos povos e do rio Tapajós, foi motivo de uma ação político religiosa,  ocorrida em São Luiz do Tapajós, em novembro passado. Várias caravanas chegadas pelo rio e pelas estradas reuniram cerca de 700 militantes em demonstração dessa resistência ética. Estavam lá, dezenas de Munduruku, dezenas de comunidades ribeirinhas, três bispos da Amazônia, movimentos sociais das cidades tapajônicas, além de cinegrafistas e jornalistas nacionais e internacionais.


O governo Dilma Rousseff por seu lado, continua  obstinado em destruir o rio e os povos ali vivendo, para gerar energia mercadológica com hidroelétricas, que ela e seus comandados de ontem e de hoje chamam de energia limpa, ignorando intencionalmente os estudos de cientistas como Philip Fernside do INPA, Célio Bermann da Universidade de São Paulo, entre outros. O governo não revela a mínima intenção de dialogar seriamente com os povos tradicionais a serem afetados pelas hidroelétricas. A qualquer sinal de resistência local, ou pagam empresas sem ética para iludir os comunitários ameaçados, de se cadastrarem para serem compensados, quando as barragens chegarem. Ou enviam militares da força nacional com metralhadoras e helicópteros para ameaçar os resistentes.

 

Um exemplo dessa arbitrariedade governamental é a recente declaração do presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho, ao jornal Estado de São Paulo (12.01.15). Ele afirma que a Eletrobrás está chegando a um acordo que garanta a construção da hidroelétrica em São Luiz do Tapajós. O tal acordo a que ele se refere, é para realizar o leilão da construção da barragem ainda no primeiro semestre deste ano.

 

Tal acordo está sendo costurado e tem como parceiros, o IBAMA e a FUNAI. Sem a menor cerimônia ou pudor, o sr. José Carvalho diz textualmente que “temos procurado entendimento com todas as autoridades ambientais, de tal maneira que a gente viabilize esse empreendimento o mais rápido possível...”. Assim, as cinco mil famílias ribeirinhas, os 12 mil Munduruku que vivem nas 110 aldeias da região tapajônica, os movimentos sociais, as igrejas e até as fracas autoridades municipais não foram chamadas ao acordo. Todos estes serão impactados caso as barragens sejam construídas, mas não são parceiros, nem autoridades ambientais para a Eletrobrás.

 

Nunca antes neste país um governo dito democrático utilizou a mesma lógica das ditaduras militares. Utiliza a arbitrária suspensão de segurança, quando surge um processo legal que tenta mostrar a inviabilidade das hidroelétricas; viola a Constituição Nacional, como foi a Medida Provisória para cortar 10 mil hectares do Parque Nacional da Amazônia; ignora a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, OIT para evitar a consulta prévia aos povos indígenas e ribeirinhos.

 

Porém o governo federal, com toda sua arrogância e uso de armas, não fará no Tapajós o que fez em outros rios Uma consciência de respeito ao precioso dom da natureza que é o rio Tapajós e seus povos, está crescendo nas cidades, nas comunidades, nas igrejas e nos movimentos sociais. Como disse o jovem  Munduruku – “nós não queremos guerra, mas não aceitamos hidroelétricas que destroem nossas vidas. Só sobre nossos cadáveres eles farão essas barragens.” Também um grande sentimento de resistência está crescendo entre os ribeirinhos, Igreja e movimentos sociais das bacia do Tapajós. Não aceitam que este belo e rico rio seja destruído para gerar energia elétrica suja para a região. E vão resistir,  a ação político religiosa ocorrida em novembro passado foi um sinal. Muitos que não puderam estar lá ouviram falar e desejaram se engajar na defesa da vida do rio e dos povos.

 

Para 2015, enquanto  a Eletrobrás pensa em acordos  espúrios para realizar leilão de construção da barragem, os movimentos sociais organizam uma estratégia de resistência que começará com um grande ato público de sensibilização e resistência no próximo dia 22 de março, dia internacional das águas. Será um ato público em cadeia em seis cidades tapajônicas: Itaituba, Jacareacanga, Trairão, Rurópolis, Aveiro, Belterra e Santarém. Os movimentos sociais com apoio da Igreja, vão  lotar praças e ruas das cidades ao mesmo tempo, com cobertura dos meios de comunicação social. O grito será forte de união de consciências a dizer “Este rio é nossa vida, fora hidroelétricas assassinas!” Os e as defensoras do rio Tapajós querem fazer seu grito chegar aos ouvidos da presidente Dilma, a dizer que ela, pelo fato de ser presidente da república não tem direito de impor hidroelétricas na Amazônia, sem escutar e respeitar os povos que aqui vivem.

 

Mas não será apenas mais uma ação de ruas e praças. A resistência continuará com novas ações durante o ano. É preciso que  os e as brasileiras do nordeste e do sul do Brasil se unam aos povos do Tapajós, a fim de barrar esses projetos destruidores das vidas para gerar mercadoria energética. Se a presidente pediu apoio e votos dos povos indígenas e dos movimentos sociais para ser eleita, agora é hora de honrar sua palavra e escutar o grito dos povos que tem direitos de vida e dignidade, como tem as empresas de buscar seus lucros. O Tapajós é nossa vida.

 

Edilberto Sena

Coordenador da Comissão Justiça e Paz Diocese de Santarém

Membro do Movimento Tapajós Vivo  – janeiro 2015

 

 

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