Depoimento a LÍGIA MESQUITA
DE BUENOS AIRES
20/01/2014
03h00
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RESUMO O transexual Alexis Taborda, 27, que
nasceu mulher, é o primeiro homem a dar à luz na Argentina. Casado oficialmente
com a também transexual Karen Bruselario, nascida homem, ele aceitou parar o
tratamento hormonal que fazia para ter feições masculinas.
Conseguiu assim engravidar –os dois
mantiveram os respectivos órgãos originais– e realizar o sonho de sua mulher de
ser mãe. Há um mês nasceu Gênesis Evangelina, a filha do casal.
Desde os seis anos eu sabia que era
transexual. Queria fazer xixi em pé, jogar futebol, me vestir como homem. Com
19 anos eu assumi minha nova identidade. Não revelo meu nome antigo porque isso
é voltar ao passado, e minha história já é outra.
Eu e a Karen estamos juntos há quatro anos e
queríamos ter um filho. Se adotar uma criança na Argentina é difícil para um
casal hétero, imagine para um casal transexual.
Como esse era o sonho da vida dela,
aproveitei que eu não estava tomando hormônios para fazer um check-up e ver se
eu podia engravidar. O médico disse que sim.
Para mim, foi muito complicado
psicologicamente voltar a menstruar, já que nos últimos seis anos tomei
hormônios para isso não acontecer. Eu já tinha uma figura total de homem e
deixar o tratamento de lado foi traumático. Meus peitos voltaram a crescer, e
agora não vejo a hora de conseguir fazer uma cirurgia para tirá-los.
Minha companheira me ajudou muito. Ela me
dizia o tempo todo que eu continuava sendo homem que nada tinha mudado, e que
seriam só nove meses.
Ricardo Santellan - 29.nov.2013/Efe
O casal Alexis, então grávido de oito meses,
e Karen depois de se casarem, em novembro
Durante a gravidez, só senti que estava
grávido quando minha filha chutava. Nos outros momentos, era como se não fosse
comigo. A Karen vivia pedindo para eu tomar cuidado com a barriga, porque
realmente eu não me tocava que era comigo.
Na hora do parto, escolhi cesárea.
Quando a Gênesis nasceu, combinamos com a
enfermeira que a primeira pessoa a ter contato com ela seria a mãe, e assim foi
feito.
Mas precisamos da ajuda de um advogado porque
o hospital queria colocar "senhora Alexis" na ata hospitalar do
nascimento da minha filha. Como eu tenho minha identidade reconhecida pela Lei
de Igualdade de Gêneros, eles foram obrigados a colocar no registro
"senhor".
Escondemos a gravidez até os cinco meses,
porque moramos em Victoria [a 371 km de Buenos Aires], uma cidade muito
pequena, com pessoas muito conservadoras. Ficamos com medo.
Chegamos a ouvir coisas horrorosas como
"vocês dão nojo", "pobre dessa criança". Mas não nos
abalamos. Agora, não deixarei ninguém falar mal da minha filha.
Estamos desempregados. Fiz curso técnico de
administração hospitalar, mas aqui ninguém nos dá emprego.
Dividimos um apartamento com uma amiga e
recebemos doações de amigos e familiares. Até o fim da gravidez, vendíamos
empanadas e tortas na rua.
A Karen, que já tinha se prostituído, voltou
à rua. Mas isso me fazia muito mal e há seis meses ela parou.
Acho curiosa a fama fora da Argentina. Sempre
leio "Primeiro homem grávido na Argentina" na internet. Mas é louco
se ver em todos os jornais, sites, se olhar no espelho e falar "não tenho
trabalho, não tenho como dar sustento à minha família".
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/01/1400063-nascido-mulher-1-homem-a-dar-a-luz-na-argentina-relata-o-caso-inedito.shtml
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