Além do alto desmatamento, ambos os
municípios têm em comum o fato de sofrerem impactos de obras de grandes
hidrelétricas
Orla do rio Xingu na cidade de Altamira,
campeã de desmatamento (©Zé Gabriel/Greenpeace)
Foi divulgado no último dia 26 que o
desmatamento na Amazônia caiu 18% em relação ao período anterior, de acordo com
o PRODES, projeto de monitoramento da Floresta Amazônica via Satélite. Essa até
poderia ser uma notícia boa, não fosse a dimensão gigante dos números que ainda
são registrados. Entre agosto de 2013 e julho de 2014 foram desmatados 4.848
km2, o equivalente a mais de 690 mil campos de futebol.
Mato Grosso, Pará e Rondônia,
respectivamente, são os estados que mais concentram áreas de desmatamento nesse
período. Fazem parte do famoso “arco do desmatamento, região onde a pressão da
expansão agropecuária sobre a floresta Amazônica é mais intensa. O Pará tem
seis municípios entre os dez primeiros no perverso ranking do desmatamento,
incluindo o primeiro lugar, que pertence a Altamira.
Quase 30 mil hectares de floresta foram
derrubados entre agosto de 2013 e julho de 2014 em Altamira. Além de ser o
maior município do Brasil, também é o centro urbano mais impactado pela obra da
usina hidrelétrica de Belo Monte, iniciada em 2011. Com mais de 20 mil hectares
desmatados, Porto Velho é a segunda cidade do ranking do PRODES. Assim como o
primeiro colocado, a capital de Rondônia também é atingida pela construção de
duas usinas hidrelétricas: Jirau e Santo Antônio, iniciadas respectivamente em
2010 e 2008 e já em operação parcial.
Os números indicam que a tendência de aumento
do desmatamento estão entre os principais impactos da construção de grandes
hidrelétricas na Amazônia. Não apenas por causa da derrubada da floresta
propriamente dita para a realização das obras, mas também pelas transformações
sociais que ocorrem nas regiões, sobretudo a explosão populacional. Além das
consequências ambientais indiretas, o aumento repentino da população também
atinge as cidades e seus serviços públicos, como moradia, saúde e educação.
O canteiro de obras Belo Monte, por exemplo,
recebeu 28 mil operários em quatro anos. Para efeito de comparação, a cidade de
Altamira contava com 99 mil habitantes, segundo o Censo de 2010. Atualmente,
estima-se que a população da cidade chegue a 120 mil pessoas. Já Porto Velho,
em decorrência principalmente da construção de Jirau e Santo Antônio, viu sua
população saltar de 428 mil em 2010 para 494 mil, de acordo com o IBGE.
Muitas dessas migrações são movidas pela
expectativa de crescimento da economia local, que dificilmente se realiza de
forma sustentável e tem como efeitos colaterais a especulação de terras, a
grilagem e os conflitos fundiários – todos fiéis parceiros do desmatamento.
Nessas áreas, nem mesmo as Unidades de Conservação são poupadas. Os dados do
PRODES mostram áreas de desmatamento ao redor da Ucs, que contam com pouco
apoio de fiscalização do Estado.
O crescimento do desmatamento em regiões da
Amazônia que recebem grandes obras de hidrelétricas e estradas sinaliza que os
planos de mitigação dos seus impactos das não estão surtindo efeito, ou não
estão sendo cumpridos como deveriam. Um exemplo de plano que não parece estar
sendo efetivo é o “BR-163 sustentável”, lançado em 2006, que atenuaria as
consequências negativas do asfaltamento da rodovia que liga os estados do Pará
e Mato Grosso. Boa parte do desmatamento nos municípios paraenses de Altamira e
de Novo Progresso acontece ao longo da rodovia, marcada pela extração ilegal de
madeira e por conflitos fundiários. Além disso, unidades de conservação na
região estão entre as mais impactadas, como as Florestas Nacionais Altamira e
do Jamanxim e a Área de Proteção Ambiental do Tapajós. Juntas, as três áreas
somaram mais de 10 mil hectares de desmatamento no período.
Se por um lado as grandes hidrelétricas da
Amazônia aparecem como vetores para o aumento do desmatamento, por outro lado
as Terras Indígenas se firmam como fortes aliadas da preservação. Apenas 1,5% do desmatamento total do último
ano, equivalente a 69 km2, ocorreu em Terras Indígenas. Mais uma demonstração de que demarcá-las e
garantir sua integridade é uma estratégia fundamental para a proteção da
floresta.
Fonte: Greenpeace Brasil
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