domingo, 24 de julho de 2011

Nova Ipixuna: fazendeiro apontado como mandante

O fazendeiro José Rodrigues Moreira foi o mandante do assassinato do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrido no dia 24 de maio passado, no assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. O executor do crime foi um irmão de Rodrigues Moreira, conhecido por Lindon Johnson, que estava em companhia de outro homem de tocaia na mata. Foi ele quem desferiu os tiros em José Cláudio e Maria quando o casal saltou da motocicleta em uma estrada de acesso ao assentamento para cruzar uma pequena ponte de madeira. Os três estão foragidos.

A disputa por dois lotes de terra dentro do assentamento foi o motivo do crime. O fazendeiro comprou lotes que eram destinados aos assentados para ampliar sua criação de gado na área. Ele é dono de uma propriedade nos limites do assentamento. Ao saber da compra, José Cláudio disse para Rodrigues Moreira que a terra não poderia ser vendida. “Não vou deixar que isso ocorra”, reagiu Silva. Ele mandou que os assentados permanecessem nos lotes.

Irritado, o fazendeiro disse que não sairia de um dos lotes que estava registrado em seu nome. Rodrigues Moreira ainda levou policiais da delegacia de Nova Ipixuna para expulsar os agricultores sem qualquer ordem judicial. Consultado, o Incra informou que os lotes pertenciam aos assentados. O fazendeiro afirmou que perderia os lotes, mas prometeu que José Cláudio e Maria, “mais cedo ou mais tarde, pagariam caro por isso”.

A polícia do Pará não confirma nem desmente a apuração feita pelo DIÁRIO sobre o mandante e os autores da morte do casal. A conclusão do inquérito será anunciada na manhã desta quarta-feira, em Belém, durante entrevista coletiva. Os delegados Rilmar Firmino e Sílvio Maués, que comandaram as investigações, não quiseram falar com o DIÁRIO, apesar das insistentes chamadas para seus celulares e tentativa de entrevista na Delegacia Geral.

RETRATOS

Durante a fase do inquérito, que levou 55 dias para ser concluído e possui 492 páginas, foram ouvidas mais de 60 pessoas. O depoimento de uma irmã de Maria do Espírito Santo foi decisivo para a elucidação do crime. Ela forneceu detalhes sobre os criminosos. Os depoimentos de todas as testemunhas foram acompanhados por representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e dos direitos humanos.

Dois dos três foragidos tiveram seus retratos falados divulgados pela polícia. Ambos possuem características bem diferentes. Um teria pele e olhos claros, altura aproximada entre 1,60m e 1,65m, rosto arredondado e cabelos lisos castanhos. Já o segundo homem seria negro, com olhos médios, nariz chato e cabelos curtos escuros, compleição forte e altura aproximada de 1,70m.

A conclusão do laudo da Perícia de Montagem e Individualização Iconográfica dos Retratos Falados da Polícia Civil é de que o grau de semelhança ou comparação aos assassinos alcança 90% para o homem de pele clara e de 70% para o de pele escura. Ainda não se sabe se a polícia irá fazer e divulgar o retrato falado do mandante do crime.

Por duas vezes, Rodrigues Moreira teve sua prisão preventiva solicitada à Justiça, mas o pedido foi indeferido. No dia 7 de junho, o DIÁRIO publicou com exclusividade que o fazendeiro era o principal suspeito de ser o mandante dos assassinatos. O aparecimento do nome dele no caso levou a Justiça a decretar o sigilo do processo.

O ASSASSINATO

1 - Lindon Johnson, irmão do fazendeiro José Rodrigues Moreira, e um outro homem estariam de tocaia na mata quando José Cláudio e Maria saltaram de uma motocicleta, na estrada, para cruzar uma pequena ponte de madeira.

2 - Johnson teria desferido os tiros que mataram o casal de ambientalistas no dia 24 de maio.

3 - Antes do assassinato, José Rodrigues entrou em conflito com o casal por conta de dois lotes de terra dentro do assentamento.

4 - O Incra confirmou a posse da terra aos assentados, ao que o fazendeiro teria dito aos ambientalistas que perderia os lotes, mas eles pagariam por isso.

Polícia Civil anuncia indiciados

Três pessoas são apontadas pela Polícia Civil do Pará como responsáveis pela execução do casal ambientalista José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Os nomes serão divulgados hoje pela manhã, em coletiva de imprensa, pelo delegado-geral Nilton Ataíde, seu adjunto, Rilmar Firmino, além do delegado que presidiu o inquérito, José Humberto Melo Júnior e o delegado Sílvio Maués, diretor de Polícia do Interior.

José Cláudio e Maria foram assassinados a oito quilômetros de sua residência, em uma pequena estrada de barro a caminho da sede de Nova Ipixuna. Eles saíram do assentamento extrativista Praia Alta Piranheira, que defenderam até a morte. Apesar de área de preservação, o local é constantemente invadido por madeireiros para roubar madeira nobre para o tráfico do produto. Maria e José Cláudio eram muito conhecidos na região por não dar trégua aos desmatadores. Eles fizeram inúmeras denúncias de tráfico de madeira aos órgãos de fiscalização, inclusive, documentavam a movimentação dos madeireiros na reserva e levavam as fotografias ao Ibama e à polícia.

Apesar dos nomes dos dois ambientalistas constarem na lista dos marcados para morrer, relação elaborada anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), o casal não recebia nenhum tipo de proteção.

As investigações iniciais apontaram que os matadores pilotavam uma moto de cor vermelha. No caso de José Cláudio, seu nome constava na lista de marcados para morrer desde 2001. No final de 2010, ele revelou sua condição de ameaçado para uma plateia de ambientalistas em Manaus.

Após a repercussão dos dois assassinatos, o governo federal enviou de volta ao Pará um grupo de militares da Força Nacional para tentar conter o avanço das mortes no campo, que recrudesceu no Estado.


Local: Belém - PA
Fonte: Diário do Pará
Link: http://www.diariodopara.com.br/

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