A poluição na água e no ar prejudica a saúde humana e do meio ambiente
A poluição na água e no ar prejudica a saúde humana e do meio ambiente. Em Santarém, mais precisamente nos bairros periféricos, os moradores sofrem com os impactos dos resíduos de madeiras. O manancial localizado nas mediações das empresas madeireiras recebe a serragem expelida no beneficiamento da madeira. O que fazer com tanta serragem que invade a vida dos moradores e a natureza? A fabricação de briquetes foi apontada por uma pesquisa da economista e gerente de exportação da empresa MADESA, Vanderléia Reis, como a solução para utilizar a serragem dessas áreas. O produto viria como uma fonte de renda, de energia e agrediria menos o meio ambiente.
A economista explica que a briquetagem é um processo de densificação de resíduos. Esse processo possui a vantagem de transformar um resíduo de baixíssima densidade em um produto energético de alta potência. “O briquete é uma lenha de alta qualidade, porque tem densidade elevada e é seco. O que facilita a armazenagem e o transporte barateando o custo”. A pesquisa realizada no ano de 2009 levantou o mercado consumidor do briquete no município de Santarém e teve resultado positivo, quando apontou a grande demanda de empresas que utilizam pedaços de madeira e o carvão. Os possíveis clientes dos produtos estão empresários de panificadora, pizzaria, olaria, vendedora de churrasquinho e até mesmo a dona-de-casa poderia passar a utilizar o produto.
Impactos humano e ambiental – É desesperador ouvir sobre o dia-a-dia dos moradores que há décadas convivem com a serragem invadindo as casas e agredindo a saúde deles. Os bairros mais afetados estão o da Nova República e o Vitória Régia. A vendedora autônoma, Gleice Aguiar dos Santos (28), diz não agüentar viver com tanto pó de serragem tomando conta da casa dela e o pior agravante de tudo isso, a saúde familiar está totalmente comprometida. “A minha família está doente devido a tanta serragem. Eu e os meus quatro filhos estamos debilitados com crises de asma. A situação está tão grave que coloquei placa de venda na minha casa, devido a esse problema da serragem”. Ela mora a 30 metros de distância da Madeireira Rancho da Cabloca, “na empresa o movimento é grande de máquinas beneficiando a madeira, a serragem nós vemos no ar. A invasão toma conta da casa, o piso, as paredes, as roupas ficam sujos. E o nosso corpo completamente imundo com o pó da serragem”, completou a moradora.
O presidente da Associação dos Moradores do bairro da Nova República, Clodoaldo Rêgo esclareceu sobre um acordo firmado entre o empresário dessa madeireira e o governo municipal para eliminar o pó da serragem do ar e dos esgotos, via Ministério Público Estadual (MPE). “Durante o verão é pó no ar e no inverno a serragem entope as sarjetas. Quatro vias públicas do bairro ficam com as casas submersas, no período chuvoso”. Em 2008, através da determinação do MPE, o empresário, juntamente com a Secretaria de Municipal de Infraestratura (Seminf), deveria encontrar uma saída para eliminar a serragem das ruas. “O trabalho feito foi uma canalização da água suja de serragem da madeira, através de uma tubulação. O serviço não atendeu a demanda e tudo está parado até hoje. No mês de novembro, nós vamos mobilizar juntamente com outras entidades sociais, uma grande audiência pública e vamos chamar novamente a representações, do MPE, governo municipal, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e outras instituições para retomar a discussão dos impactos da serragem”, anunciou o representante do bairro.
No bairro Vitória Régia, é a contaminação nos poços artesianos que preocupa os cidadãos. A agente de saúde, Leuyce Melo, confirma que, com a dificuldade de abastecimento de água no bairro, moradores voltaram a beber água contaminada pela serragem. A madeireira MADESA, localizada na área também foi autuada pelo MPE, há três anos por ser comprovada a responsabilidade na contaminação dos poços artesianos existentes na área. O empresário perfurou um poço mais profundo para o abastecimento dos moradores prejudicados. “Mas, a população aumentou, o serviço de saneamento público não chegou a todas as residências e com isso alguns moradores estão consumindo água contaminada novamente. Os sintomas diagnosticados no posto de saúde e através das visitas na casas são tonturas e diarréias. As crianças são as mais atingidas”. A agente de saúde e representante da Associação dos Moradores do bairro da Vitória Régia confirma também um novo movimento de luta contra os impactos ambientais da serragem na área. Entre os agravantes maiores na água estão o odor e a coloração avermelhada.
Pesquisa aponta a contaminação – O pesquisador em Recursos Hídricos, do Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas (ICTA), vinculado à Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Reinaldo Peleja, fez o levantamento e detectou no bairro Vitória Régia, o impacto do lençol freático do manancial que abrange a área, o Igarapé do Urumari por meio da serragem. Na base do solo e na linha da água subterrânea existem inúmeras perfurações artesanais. “Os poços artesianos são contaminados pelo chorume, decomposição animal e vegetal, entre essas substâncias está a serragem, tudo por conta da baixa profundidade de escavação. A média encontrada dos poços foi de 50 a 60 metros de profundidade. A metragem ideal para evitar a contaminação deveria ser de 150 a 250 metros”. Reinaldo relaciona as diferentes camadas existentes no subsolo dessa área, e aponta qual seria a camada com água potável. O apoio desse levantamento especializado foi uma parceria do Centro de Perícias Científicas, CPC/Belém/Pa, com determinação da promotoria ambiental do MPE/STM.
_____________________________ Solo Impermeável
********************************* Semi Artesiano
+++++++++++++++++++++++++ Camadas Impermeáveis
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Lençol Subterrâneo
Fonte (ICTA / Ufopa)
Pó de serragem doada para Olaria - Fonte: Rancho da Cabloca
Empresário rebate acusações – De três empresários procurados apenas Keybo Ciesca, da madeireira Rancho da Cabloca, aceitou conversar sem gravar com a nossa reportagem. Ele confirma e mostra que a empresa realiza três atividades na linha da preservação do meio ambiente e na proteção dos moradores no bairro da Nova República. Entre as alternativas de eliminar a serragem estão a fábrica de briquete, com o primeiro estoque a ser negociado para uma empresa amazonense. A segunda alternativa é a utilização da serragem na própria empresa, como fonte de energia nos fornos de secagem da madeira já beneficiada para a exportação. E a terceira e última alternativa está na doação do pó da serragem para as empresas de olarias na cidade Santarena. Keybo confirma que por conta dessa doação as olarias, o preço do tijolo e da telha ficou bastante reduzido no mercado. E nas dependências da empresa madeireira todos os profissionais estão equipados para garantir a segurança no trabalho.
Briquete - Fonte: Rancho da Cabloca
Solução: A briquetagem – O levantamento da pesquisadora e economista Vanderléia Reis, com base em dados do Sindicato das Empresas Madeiras em Santarém, há 17 empresas dessa categoria regularmente registradas. E outras médias que trabalham somente com a extração de toras, também poucas empresas aproveitam em função da produção de uma alternativa de energia menos degradante ao meio ambiente e mais lucrativa do ponto de vista econômico. “O retorno para o empresário madeireiro seria superior ao investimento. Sendo que a matéria-prima tem em grande proporção nos pátios da serraria. O espaço para organizar a máquina, a briquetadeira seria pequeno e somente 6 funcionários para movimentar da fábrica”.
“COMO FAZER O BRIQUETE”
Briquetadeira - Fonte: Rancho da Cabloca
Todo resíduo de origem vegetal pode ser compactado pela briquetagem bastando atender às necessidades de granulometria e teor de umidade exigido pelo processo. Os resíduos briquetados são secos e possuem um teor de umidade por volta de 8 -12 %. Estes briquetes são equivalentes a uma lenha seca, de elevada densidade e com uma forma extremamente homogênea que permite a mecanização na alimentação de equipamentos.
O mercado consumidor final ocupa o lugar destaque na comercialização do briquete. “Além da melhoria da qualidade de vida, produtores e consumidores, o briquete está associado à preservação ambiental”, justifica Vanderléia Reis.
Com base nas informações do Centro Avançado de Estudos Amazônicos (CEAMA) de 2008, Vanderléia confirma o mercado consumidor do briquete:
Vantagens do Briquete frente a Lenha:
BRIQUETE LENHA
1.Alto potencial calórico
2.Armazenagem em pouco espaço
3.Redução de mão de obra em seu manuseio
4. Menor volume na estocagem e transporte
5. Baixa poluição e com mais energia
6. Maior temperatura da chama
7. Isentos de licenças especiais
8.Baixo teor de Cinzas
1. Baixa temperatura da chama
2. Grandes áreas para armazenamento
3. Maior mão de obra
4.Sujeira no local de estocagem e no transporte
5.Grande quantidade de cinzas
6. Licenças especiais
7.Baixa Uniformidade de calor
8.Material com grande concentração de cinzas.
Os dados acima confirmam o quanto o Briquete tem espaço garantido no mercado, existe a matéria-prima de fácil acesso e baixo custo de produção. Apenas um fábrica existe no município A pesquisadora, Vanderléia Reis explica a redução do interesse pelo setor empresarial madeireiro dessa alternativa eficaz para diminuir os impactos ambientais. “A dificuldade maior encontrada pelo empresário no setor, é falta de parcerias, principalmente das instituições públicas ou privadas ligadas a defesa ambiental. Muitos projetos de sustentabilidade esbarram na burocracia de financiamentos dos bancos e ficam engavetados na empresa. E o resultado está nos impactos causados pela serragem na água, no ar e no solo”.
Esta reportagem é parte da ação do curso de especialização em Jornalismo Científico da UFOPA, na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, no período de 17 a 23 de outubro de 2011, com o tema “Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos”.
Por Alciane Ayres