segunda-feira, 1 de setembro de 2014

BR-163 Insustentável

BR-163 Insustentável

BR-163 Insustentável

No comando do Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo Lula, Marina Silva teve no plano ‘BR-163 Sustentável’ a principal tentativa para evitar o desmatamento causado por estradas na Amazônia. A reportagem da Folha foi ao interior do Pará para checar o que ocorreu com o plano

MARCELO LEITE ENVIADO ESPECIAL A NOVO PROGRESSO (PA)
31/08/2014
Virou fumaça, ou poeira, o plano “BR-163 Sustentável”, principal tentativa de Marina Silva quando era ministra de Lula para evitar o desmatamento induzido por estradas na Amazônia. Não se vê outra coisa -pó e fumaceira- nos cerca de 200 km que ainda falta pavimentar da rodovia no sudoeste do Pará.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lançou há 11 dias o alerta de que cresceram 320% os focos de queimadas no Pará em 2014, até o último dia 19, em comparação com o mesmo período do ano passado. A maioria ocorreu na área da BR-163, nos municípios de Altamira, Itaituba e Novo Progresso.
A reportagem da Folha percorreu, por quatro dias na penúltima semana de agosto, os cerca de 400 km entre Itaituba e Novo Progresso, dos quais pelo menos 150 km ainda são de terra. Melhor dizendo: 150 km de buracos, areiões e atoleiros, que obrigam as carretas de soja ou milho a trafegar a meros 4 km/h em alguns trechos.
Faz oito anos que o governo Lula decidiu asfaltar os quase mil quilômetros do trajeto paraense da BR-163. A estrada ainda está incompleta, mesmo recebendo dotação orçamentária de R$ 1,5 bilhão nos últimos cinco anos. Deve ficar pronta em dezembro de 2015.
A rodovia, também conhecida como Cuiabá-Santarém, tem por principal função escoar a safra de grãos de Mato Grosso pelo norte, via rio Amazonas, em vez de seguir para os longínquos portos ao sul (Santos e Paranaguá).
Caminhões com toras de madeira ilegal apreendidas pelo IBAMA na região de Novo Progresso (PA)Lalo de Almeida/Folhapress

Desmatamento e clima


Em 1999, quando o governo FHC planejou pavimentar a BR-163, temia-se um salto nas taxas de desmatamento (80% dele ocorre ao longo de rodovias amazônicas). Se 30 km fossem derrubados de cada lado da estrada, só a Cuiabá-Santarém redundaria em 60 mil km² de corte raso, ou três Estados de Sergipe.
Na área de influência da BR-163, até o ano 2000 haviam sido desmatados 15.665 km². No segundo ano do primeiro governo Lula, em 2004, atingiu a cifra alarmante de 1.908 km², baixando em seguida para um patamar em torno de 500 km² ao ano entre 2010 e 2012. Em 2013, contudo, saltou para 728 km². Os usos da terra (desmatamento e agropecuária) ainda representam cerca de 60% das emissões de dióxido de carbono (CO₂) do Brasil. Já foram responsáveis por três quartos do CO₂, o principal gás agravador do efeito estufa e da mudança climática, mas essa forma de poluição recuou muito com a queda nas taxas de desmatamento observada desde 2004.
Foi em 2004, quando a atual candidata a presidente Marina Silva (PSB) ainda era do PT e encabeçava o Ministério do Meio Ambiente, que começou a esboçar-se o “BR-163 Sustentável”. O plano era tornar o Estado mais presente na região, levando fiscalização, regularização fundiária, crédito e apoio técnico para uma produção agropecuária menos devastadora.

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