Na eleição de 1986 o ex-governador Alacid Nunes anoiteceu com mais um mandato de deputado federal e amanheceu desbancado pelo novato Vic Pires Franco. Esta surpreendente mutação se transformou numa façanha para o jovem parlamentar e num opróbrio para a segunda maior liderança política criada pelo movimento militar de 1964 no Pará (e que se transformaria no antípoda da outra liderança, a do coronel Jarbas Passarinho, embora tenham chegado juntos e sob a mesma proteção à arena política).
Foi assim que Vic Pires Franco iniciou uma surpreendente e sempre ascendente carreira na política federal, suspensa ou encerrada neste mês por um lance que sugere que o feitiço se virou contra o feiticeiro. Acostumado a mudar de posição conforme as circunstâncias e conveniências, o presidente regional do DEM parece ter acreditado em sua força pessoal e na solidez eleitoral da sua esposa, a ex-vice-governadora Valéria Pires Franco, mais do que recomendava o bom senso, a sensatez e os fatos.
No seu blog, criado com evidentes propósitos políticos, atacou tudo e todos. Mas ao mesmo tempo em que mordia, assoprava. Ou primeiro mordia e depois, se necessário, assoprava. Como se os atingidos tivessem a obrigação de esquecer as críticas, muitas delas contundentes, curar as feridas, apagar a memória e dar-se por satisfeitos de receber o casal. O marido, com um baú de votos, voltaria com tranqüilidade à Câmara Federal e a esposa, como a segunda preferida para o Senado em prévias, incluindo pesquisa do Ibope, se consagraria logo atrás de Jader Barbalho. Vic podia fazer o que quisesse: seu lugar e o de Valéria estariam assegurados, por conta dos seus trunfos, tão apregoados no blog.
A surpresa desagradável começou a se caracterizar quando ele peregrinou por todos os partidos e em nenhum deles encontrou posições cativas. Nenhum lhe bateu com a porta na cara. Ele pôde entrar, conversar, negociar e voltar pelo caminho da chegada de mãos abanando. As alternativas PT e PMDB eram, obviamente, ilusórias. Não passavam de armadilhas, refeitas a partir dos destroços da armadilha montada pelo líder do DEM. O que restava era o PSDB. Mas o candidato ao governo puxou o tapete do casal.
Só os tucanos de arribação desconhecem que o senador Flexa Ribeiro, candidato natural à reeleição, não é nome do peito de Simão Jatene. O que lhe custaria assegurar a segunda vaga para Valéria, aliada histórica? Talvez a aliança no 2º turno com Jader Barbalho, hipótese que pode ser considerada mais provável do que a recomposição do PMDB com o PT. Jader bloqueou os Pires Franco esperando que Jatene fizesse o mesmo, o que não aconteceu por acaso. Desta vez, ninguém foi no blefe: todos pagaram para ver as cartas.
O casal desistiu de disputar a eleição de outubro. Ficará durante dois anos ao relento. Voltará? Vic parece certo que sim, confiando na sua inegável capacidade de articulação e aplicação obsessiva aos seus objetivos e interesses. Mas vai precisar contar com a aceitação dos russos, sejam eles da política como da mídia. E aí é que está o problema. Com suas notas faiscantes no blog e os trunfos de uma pesquisa eleitoral recebida com descrédito, em função dos antecedentes desse tipo de encomenda na eleição para a prefeitura de Belém, os dois podem ter perdido a credibilidade. Quem ainda estará disposto a apostar – e votar – neles no futuro?
Poucos políticos foram tão mutantes quanto Victor Pires Franco Neto. Basta um exemplo para revelar o tamanho das suas mudanças. Numa entrevista de duas páginas dada ao Jornal Popular em 1998, ele apresentou a seguinte explicação para a ação popular que ajuizara poucos meses antes contra o convênio entre a Funtelta e a TV Libera,:
“Houve um convênio entre a TV Liberal e o Governo do Estado [na administração Almir Gabriel, então muito criticada por Vic], sem licitação, apesar de tirar dos cofres públicos R$ 12 milhões, ao longo de quatro anos [viriam a ser R$ 37 milhões ao final de 10 anos]. Isso é inadmissível e para mim é o suficiente. Agora, o mais importante – e, na minha opinião, o mais indecente desse contrato – é que a Funtelpa, que é uma emissora do Estado, vai alugar as suas repetidoras no interior e o normal seria que o grupo de comunicação pagasse por isso – e, no entanto, quem vai pagar é a Funtelpa. Isso é a mesma coisa que você alugar a sua casa e ainda pagar para a pessoa morar lá”.
Quando o repórter lhe pergunta pela real finalidade desse convênio, Vic responde: “A finalidade é eleitoral, está na cara. Para disfarçar essa dinheirama toda, se colocam as inserções a que o governo do Estado terá direito. E por que é que não se consultou, por exemplo, a RBA ou a TV Boas Novas? A RBA já está apresentando uma proposta, com valores infinitamente menores – e vou pedir o seu aditamento à ação popular. Sei que vou pagar um preço caro por isso – já estou pagando. Mas nunca tive medo de ninguém e só tenho satisfações a dar ao povo que me elegeu, às minhas duas filhas e à minha mulher”.
Sem dar satisfação a ninguém e sem explicar a razão da sua nova atitude, pouco tempo depois Vic Pires Franco retirou seu nome da ação popular, que só não foi arquivada porque outra pessoa, o sociólogo Domingos Conceição, se apresentou para substituí-lo. Vic tinha conseguido recompor sua amizade com Romulo Maiorana Júnior, o principal executivo do grupo Liberal. A ação deixou de atender seus interesses.
Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
Por: O Estado do Tapajos On Line
Foi assim que Vic Pires Franco iniciou uma surpreendente e sempre ascendente carreira na política federal, suspensa ou encerrada neste mês por um lance que sugere que o feitiço se virou contra o feiticeiro. Acostumado a mudar de posição conforme as circunstâncias e conveniências, o presidente regional do DEM parece ter acreditado em sua força pessoal e na solidez eleitoral da sua esposa, a ex-vice-governadora Valéria Pires Franco, mais do que recomendava o bom senso, a sensatez e os fatos.
No seu blog, criado com evidentes propósitos políticos, atacou tudo e todos. Mas ao mesmo tempo em que mordia, assoprava. Ou primeiro mordia e depois, se necessário, assoprava. Como se os atingidos tivessem a obrigação de esquecer as críticas, muitas delas contundentes, curar as feridas, apagar a memória e dar-se por satisfeitos de receber o casal. O marido, com um baú de votos, voltaria com tranqüilidade à Câmara Federal e a esposa, como a segunda preferida para o Senado em prévias, incluindo pesquisa do Ibope, se consagraria logo atrás de Jader Barbalho. Vic podia fazer o que quisesse: seu lugar e o de Valéria estariam assegurados, por conta dos seus trunfos, tão apregoados no blog.
A surpresa desagradável começou a se caracterizar quando ele peregrinou por todos os partidos e em nenhum deles encontrou posições cativas. Nenhum lhe bateu com a porta na cara. Ele pôde entrar, conversar, negociar e voltar pelo caminho da chegada de mãos abanando. As alternativas PT e PMDB eram, obviamente, ilusórias. Não passavam de armadilhas, refeitas a partir dos destroços da armadilha montada pelo líder do DEM. O que restava era o PSDB. Mas o candidato ao governo puxou o tapete do casal.
Só os tucanos de arribação desconhecem que o senador Flexa Ribeiro, candidato natural à reeleição, não é nome do peito de Simão Jatene. O que lhe custaria assegurar a segunda vaga para Valéria, aliada histórica? Talvez a aliança no 2º turno com Jader Barbalho, hipótese que pode ser considerada mais provável do que a recomposição do PMDB com o PT. Jader bloqueou os Pires Franco esperando que Jatene fizesse o mesmo, o que não aconteceu por acaso. Desta vez, ninguém foi no blefe: todos pagaram para ver as cartas.
O casal desistiu de disputar a eleição de outubro. Ficará durante dois anos ao relento. Voltará? Vic parece certo que sim, confiando na sua inegável capacidade de articulação e aplicação obsessiva aos seus objetivos e interesses. Mas vai precisar contar com a aceitação dos russos, sejam eles da política como da mídia. E aí é que está o problema. Com suas notas faiscantes no blog e os trunfos de uma pesquisa eleitoral recebida com descrédito, em função dos antecedentes desse tipo de encomenda na eleição para a prefeitura de Belém, os dois podem ter perdido a credibilidade. Quem ainda estará disposto a apostar – e votar – neles no futuro?
Poucos políticos foram tão mutantes quanto Victor Pires Franco Neto. Basta um exemplo para revelar o tamanho das suas mudanças. Numa entrevista de duas páginas dada ao Jornal Popular em 1998, ele apresentou a seguinte explicação para a ação popular que ajuizara poucos meses antes contra o convênio entre a Funtelta e a TV Libera,:
“Houve um convênio entre a TV Liberal e o Governo do Estado [na administração Almir Gabriel, então muito criticada por Vic], sem licitação, apesar de tirar dos cofres públicos R$ 12 milhões, ao longo de quatro anos [viriam a ser R$ 37 milhões ao final de 10 anos]. Isso é inadmissível e para mim é o suficiente. Agora, o mais importante – e, na minha opinião, o mais indecente desse contrato – é que a Funtelpa, que é uma emissora do Estado, vai alugar as suas repetidoras no interior e o normal seria que o grupo de comunicação pagasse por isso – e, no entanto, quem vai pagar é a Funtelpa. Isso é a mesma coisa que você alugar a sua casa e ainda pagar para a pessoa morar lá”.
Quando o repórter lhe pergunta pela real finalidade desse convênio, Vic responde: “A finalidade é eleitoral, está na cara. Para disfarçar essa dinheirama toda, se colocam as inserções a que o governo do Estado terá direito. E por que é que não se consultou, por exemplo, a RBA ou a TV Boas Novas? A RBA já está apresentando uma proposta, com valores infinitamente menores – e vou pedir o seu aditamento à ação popular. Sei que vou pagar um preço caro por isso – já estou pagando. Mas nunca tive medo de ninguém e só tenho satisfações a dar ao povo que me elegeu, às minhas duas filhas e à minha mulher”.
Sem dar satisfação a ninguém e sem explicar a razão da sua nova atitude, pouco tempo depois Vic Pires Franco retirou seu nome da ação popular, que só não foi arquivada porque outra pessoa, o sociólogo Domingos Conceição, se apresentou para substituí-lo. Vic tinha conseguido recompor sua amizade com Romulo Maiorana Júnior, o principal executivo do grupo Liberal. A ação deixou de atender seus interesses.
Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
Por: O Estado do Tapajos On Line
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