Se tomarmos o fato de que os embates por uma divisão territorial, política e administrativa, ou seja, o processo de luta por autonomia política começa muito antes da separação física, de fato, não há nenhum exagero em afirmar que as regiões Sul/Sudeste e Oeste paraenses, isto é, o Tapajós e o Carajás, já se acham relativamente separados da união composta pelo Estado do Pará.
As cidades mais procuradas, por exemplo, para tratamento médico especializado, são Arguaína, Palmas, Goiânia, e cidades maranhenses e piauienses. Para Belém, em comparação, as viagens são raras, tal como se vê nas placas e horários de saídas de ônibus nas duas estações rodoviárias de Marabá (foto acima).
Porto de Santarém recebe transatlânticos
e está na mira dos exportadores da ZF
Nesta cidade, eu ouvi a expressão "vocês, do Pará", indicativo de um estado de ânimo ainda difuso e que, se trabalhado com competência por lideranças sociais e políticas, pode incendiar os ânimos e catalisar o ímpeto separatista.
No Oeste, onde estive em Santarém semana passada, realizou-se um grande encontro de lideranças políticas, empresariais e de movimentos sociais (novidade: os movimentos sociais e ONGs estão entrando na luta). Havia políticos de diversos municípios da região, representantes do Sul/Sudeste do Pará e de Manaus. Esta cidade amazonense tem particular interesse na criação do Tapajós.
Os empresários e os políticos de lá imaginam que, com a autonomia, a BR-163 seria logo viabilizada economicamente, com asfalto em todo o percurso, dando vazão às exportações da Zona Franca de Manaus com mais rapidez em direção ao centro/sul do País. E a preços incomparavelmente mais competitivos do que descer o rio Amazonas até Belém e tomar e Belém-Brasília.
Mas não é disto que falo. Penso mais naquela expressão "vocês, lá do Pará" e de outra, que ouvi em Santarém, de um engenheiro agrônomo: "Eu e muita gente aqui queremos mostrar aos nossos irmãos de Belém, e de outras regiões, que nós não somos paraenses".
Esta é a separação já existente, por dentro. Quem nasceu e se criou em Belém e nas regiões mais próximas à capital, e não conhece nem o Sul nem o Oeste do Pará, não tem idéia dessa velha aspiração. Imaginam que se trata, apenas, de ação aventureira. Esta existe em todo e qualquer movimento político e social, mas não se pode desconhecer que a autonomia político-administrativa enraíza-se no povo, faz parte da cultura de gerações.
Dessa forma, o Pará já se acha dividido. O que o plebiscito revelar, seja o sim, seja o não, essa realidade não só permanecerá como, em qualquer das duas opções, se aprofundará. Uma possibilidade que deveria fazer refletirem as lideranças maiores do Pará e daquelas duas regiões. Afinal, não se leva a campo uma luta dessa magnitude pensando apenas dentro de gabinetes. Por que não vão às ruas, ouvir o povo de lá e de cá, antes do plebiscito?
Uma dura situação está posta: se houver plebiscito, seu resultado trará graves consequências, grave aqui não apenas no sentido negativo, mas a gravidade de prováveis novas soluções para velhos problemas. Se não houver plebiscito, a frustração de uma imanesa parte da população do Pará crescerá. Se correr o bicho pega, se ficar... Há lideranças para levar em conta estas possibilidades? (Duvido!)
Blog do Manuel Dutra -
Por: Jota Parente
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