Dia 11 de outubro próximo, tem início o Ano da Fé,
estabelecido pelo Papa Bento XVI. A data coincide com a comemoração dos 50 anos
da abertura do Concílio Vaticano II e dos 20 anos da publicação do Catecismo da
Igreja Católica.
Quando estava em Roma,
no ano 2001, assisti admirado, na Praça de São Pedro, à chegada de milhares de
fiéis do movimento Kolping, vindos da Alemanha, sobretudo homens, cantando com
entusiasmo contagiante. Comentei então com um Cardeal alemão que estava ao meu
lado: "Diante disso, Eminência, não se pode dizer que a Alemanha não seja
um país católico!" Ele, porém, observou, acalmando um pouco o meu
entusiasmo: "É, mas a Fé sempre corre perigo!". Era o Cardeal Joseph
Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
O Papa tem se mostrado preocupado com a crise da Fé:
"Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a
necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência
sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo...
Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as
consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé,
considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora, tal
pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.
Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário,
amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela
inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade
devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas. Não devemos
aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida... Devemos
readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida
fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos
são seus discípulos..." (Carta Apostólica Porta Fidei, pela qual Bento XVI
proclama o Ano da Fé).
Nesse momento, reúne-se com o Santo Padre em Roma a XIII
Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, tendo por tema "A nova
evangelização para a transmissão da fé cristã".
O que moveu o Papa a essa nova evangelização ele já havia
lembrado no discurso inaugural da Conferência do CELAM, em Aparecida:
"Percebe-se certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade
e da própria pertença à Igreja Católica". Na mesma linha, os Bispos do
CELAM escreveram: "O Santo Padre nos responsabilizou ainda mais, como Igreja,
na grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus... Nas últimas
décadas vemos com preocupação, que numerosas pessoas perdem o sentido
transcendental de suas vidas e abandonam as práticas religiosas... Não
resistiria aos embates do tempo atual uma fé católica reduzida a uma bagagem, a
um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoção
fragmentadas, a adesões seletivas e parciais das verdades da fé, a uma
participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de princípios
doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos
batizados. Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da
Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a
fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez" (Documento de
Aparecida, n. 7, 12, 100 f).
Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Nenhum comentário:
Postar um comentário