Um médico de
Marabá postou em seu perfil, numa rede social, um comentário sobre a
possibilidade de tudo vir a piorar. “Nada está tão ruim que não possa piorar”,
escreveu o doutor que teve de terminar uma cirurgia, num hospital municipal, à
luz das lanternas dos celulares modernos, pois faltou energia bem na hora da
operação e o gerador estava com defeito. Eu imagino o estresse desses
profissionais, a ansiedade de que tudo saísse bem, e a correria para que a
situação chegasse ao fim. É mais um relato da triste condição da saúde no
Brasil e principalmente aqui no Pará.
Não falta
mais nada. Tudo já aconteceu e continua a acontecer numa roda de circunstâncias
desastrosas e inexplicáveis. Aliás, falta boa gestão, interesse e sensibilidade
pela dor alheia. Se tivéssemos que escrever um diário sobre as condições da
saúde, só no Pará, talvez a floresta amazônica fosse pouco para a produção de
papel. Mesmo que fosse escrita em meio digital, faltaria espaço em gigabytes ou
coisa parecida.
Essa semana,
li que os pediatras reduziram o número de atendimentos a crianças pelos planos
de saúde e achei isso gravíssimo, pois as crianças, como as grávidas, são
prioridade das prioridades. Nada vem na frente dos nossos filhos, das crianças.
É claro que há mil e uma explicações, defesas, desculpas etc., mas eu não
acredito que um país possa pensar em crescimento se não pensar em saúde. Um
país sem saúde e sem o cuidado com a saúde é um país que não cuida da vida, não
se prepara para o futuro. O poder público é o principal responsável, mas a
sociedade tem que cobrar mais, não pode ficar inerte à gravidade do problema.
Chegamos ao ponto de o trabalhador pagar duas vezes para ter atendimento (ao
SUS e a um plano particular) e não conseguir atendimento satisfatório para sua
família. É um abuso. Todos nós sabemos disso. Entra ano e sai ano e as coisas
só pioram.
Neste ano de
eleições, nas quais a população do Pará já escolheu quase todos os seus novos
gestores, é bom ficarmos alerta para a questão da saúde, pois eu acho que já
estamos num perigoso caminho da conformação com a nossa indigência crônica. Os
novos prefeitos devem ter compromisso inadiável, diário, tenaz, persistente até
que se consiga alguma melhora no quadro clínico da população doente e sem
atendimento.
É bom
construir hospitais, mas é melhor fazê-los funcionar. É melhor equipar as
unidades de saúde e ter um quadro de profissionais justamente pagos e
treinados. Uma população saudável é mais colaborativa, trabalhadora e feliz. Só
o estresse que uma pessoa carrega pelo fato de não saber se terá atendimento no
sistema de saúde, seja público ou particular, já piora muito seu quadro
clínico.
Sei que a
vida de um homem público não é fácil, pois ele tem muitas funções e
compromissos. Sei também que há setores prioritários que também estão nas
mesmas condições como a educação, a segurança, e a infraestrutura. Mas, sem
atenção à saúde não dá.
JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no
Jornal Diário do Pará no dia 21 de outubro de 2012.
21 de
outubro de 2012
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