segunda-feira, 22 de outubro de 2012

SAÚDE NA LANTERNA.


Um médico de Marabá postou em seu perfil, numa rede social, um comentário sobre a possibilidade de tudo vir a piorar. “Nada está tão ruim que não possa piorar”, escreveu o doutor que teve de terminar uma cirurgia, num hospital municipal, à luz das lanternas dos celulares modernos, pois faltou energia bem na hora da operação e o gerador estava com defeito. Eu imagino o estresse desses profissionais, a ansiedade de que tudo saísse bem, e a correria para que a situação chegasse ao fim. É mais um relato da triste condição da saúde no Brasil e principalmente aqui no Pará.

Não falta mais nada. Tudo já aconteceu e continua a acontecer numa roda de circunstâncias desastrosas e inexplicáveis. Aliás, falta boa gestão, interesse e sensibilidade pela dor alheia. Se tivéssemos que escrever um diário sobre as condições da saúde, só no Pará, talvez a floresta amazônica fosse pouco para a produção de papel. Mesmo que fosse escrita em meio digital, faltaria espaço em gigabytes ou coisa parecida.

Essa semana, li que os pediatras reduziram o número de atendimentos a crianças pelos planos de saúde e achei isso gravíssimo, pois as crianças, como as grávidas, são prioridade das prioridades. Nada vem na frente dos nossos filhos, das crianças. É claro que há mil e uma explicações, defesas, desculpas etc., mas eu não acredito que um país possa pensar em crescimento se não pensar em saúde. Um país sem saúde e sem o cuidado com a saúde é um país que não cuida da vida, não se prepara para o futuro. O poder público é o principal responsável, mas a sociedade tem que cobrar mais, não pode ficar inerte à gravidade do problema. Chegamos ao ponto de o trabalhador pagar duas vezes para ter atendimento (ao SUS e a um plano particular) e não conseguir atendimento satisfatório para sua família. É um abuso. Todos nós sabemos disso. Entra ano e sai ano e as coisas só pioram.

Neste ano de eleições, nas quais a população do Pará já escolheu quase todos os seus novos gestores, é bom ficarmos alerta para a questão da saúde, pois eu acho que já estamos num perigoso caminho da conformação com a nossa indigência crônica. Os novos prefeitos devem ter compromisso inadiável, diário, tenaz, persistente até que se consiga alguma melhora no quadro clínico da população doente e sem atendimento.

É bom construir hospitais, mas é melhor fazê-los funcionar. É melhor equipar as unidades de saúde e ter um quadro de profissionais justamente pagos e treinados. Uma população saudável é mais colaborativa, trabalhadora e feliz. Só o estresse que uma pessoa carrega pelo fato de não saber se terá atendimento no sistema de saúde, seja público ou particular, já piora muito seu quadro clínico.

Sei que a vida de um homem público não é fácil, pois ele tem muitas funções e compromissos. Sei também que há setores prioritários que também estão nas mesmas condições como a educação, a segurança, e a infraestrutura. Mas, sem atenção à saúde não dá.



JADER BARBALHO

*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 21 de outubro de 2012.



21 de outubro de 2012


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