O site Zenit.org publicou na última
sexta-feira(07/02/14), uma entrevista concedida por Stefano Gennarini, diretor
do Centro de Estudos Legais C- FAM -”Instituto para a família e os Direitos
Humanos” com sede em Nova York e Washington, fundado em 1990 como resposta ao
apelo do Beato João Paulo II para que os católicos estejam presentes em praça
pública- , sobre uma polêmica no âmbito internacional acerca do Relatório do
Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança que critica fortemente a
Igreja Católica. O que é mais surpreendente é que o Comitê da ONU não se
limitou apenas a lançar críticas venenosas, mas pretendeu que a Santa Sé se
retire da oposição às políticas abortivas e pare de se opor aos casamentos e
adoções por casais homossexuais.
ZENIT: O que é o C- FAM e qual é o papel que desempenha na
ONU?
Gennarini: C -FAM está comprometida todos os dias em seguir e
aprofundar tudo o que acontece nas Nações Unidas, com particular ênfase para as
questões da família e da vida. As informações e entrevistas coletadas são
difundidas por um boletim semanal conhecido como “Friday Fax” (O fax da
sexta-feira). Como associação, C- FAM participou dos principais encontros e
conferências relativas aos temas sociais, como a Conferência do Cairo do 1994, e
é reconhecida junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.
ZENIT: O que você acha das recomendações divulgadas pelo
Comitê das Nações Unidas sobre os direitos da Criança?
Gennarini: Eu estou acostumado a ver como os funcionários dos
departamentos das Nações Unidas conseguem elaborar documentos extravagantes.
Neste caso, estou preocupado com aqueles que irão ler estas observações. É uma
pena que o Comitê sobre os Direitos da Criança tenha escolhido tomar esse
caminho. Dessa forma, estão minando o trabalho da ONU na promoção e no respeito
dos direitos humanos. Com este documento a credibilidade deste departamento foi
posta em discussão: agora nenhum país tomará a sério as observações do Comitê,
porque é evidente que se trata de um documento politicamente e ideologicamente
tendencioso.
ZENIT: Portanto, você não está surpreso por este
comportamento?
Gennarini: Realmente não. Há anos existem grupos
ideologicamente militantes do aborto e do matrimônio e adoção gay; grupos que
são maioria nos departamentos de organismos das Nações Unidas. Estes grupos
gozam de generosas doações provenientes dos países do Norte e daqueles
europeus. Sua ideologia distorce a realidade, de tal forma que embora nenhum
tratado mencione o aborto a orientação sexual e questões semelhantes, eles são
capazes de inserir argumentações ideológicas nos documentos oficiais. Inserindo
argumentações ideológicas distorcem a interpretação jurídica. É uma pena,
porque as indicações dos comitês de vigilância dos departamentos da ONU poderiam
desempenhar um papel importante no ajudar os países a fazer respeitar os
direitos humanos. Pelo contrário, o debate foi todo dirigido à promoção do
aborto e da homossexualidade. Este modo de atuar alimenta o ceticismo daqueles
que criticam as Nações Unidas e especialmente o Departamento para a promoção e
o respeito dos Direitos Humanos. O ataque contra a Igreja Católica estava no
ar. Os partidários de certas ideologias estão sempre tentando manchar a imagem
pública da Santa Sé. Para eles, o Vaticano é o inimigo público número um. Não
suportam que a Santa Sé se oponha a violações da dignidade humana. Se não fosse
o trabalho da delegação vaticana junto às Nações Unidas e da Secretaria de
Estado, o aborto e a sodomia poderiam já ter sido declarados como direitos
humanos universais. A Santa Sé é a única delegação da ONU que não aceita
qualquer ambiguidade sobre questões que afetam a dignidade dos meninos e das
meninas. Em geral, as delegações dos diferentes Países não estão dispostas a
lutar para defender o nascituro.
ZENIT: Mons. Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé na
ONU, em Genebra, disse em uma entrevista que o relatório “foi escrito” antes
mesmo de que a Santa Sé fizesse a sua apresentação à comissão. É verdade?
Gennarini: É um fato. Mons. Tomasi está simplesmente
afirmando o que muitos daqueles que trabalham nas Nações Unidas já sabem. A
verdade é que os documentos não são escritos por especialistas que compõem o
corpo de monitoramento dos tratados. Esses especialistas não são compensados
pelo trabalho que fazem e trabalham sobre estas questões apenas um par de
semanas por ano. Quem está realmente no controle desses processos é o pessoal
das Nações Unidas e do Departamento do Alto Comissariado para os Direitos
Humanos que trabalham em tempo integral em Genebra para preparar relatórios,
observações e recomendações. Assim, quando os especialistas reuniram-se com a
Santa Sé em janeiro e falaram com Mons. Tomasi , elogiaram o trabalho da Santa
Sé para proteger as crianças. E, no entanto, foi tudo inútil, porque os
burocratas das Nações Unidas já tinha decidido as suas observações.
ZENIT: Então é verdade o que disse o arcebispo, ou seja, que
detrás das observações do Comitê tinha uma boa parte das organizações não
governamentais prováveis a favor do casamento gay e do aborto?
Gennarini: Sem dúvida. Os países nas Nações Unidas reclamaram
muitas vezes a falta de transparência na forma como os comités de vigilância
interagem com as organizações não-governamentais. Muitas vezes, as informações
fornecidas pelos países membros são ignoradas e as Comissões se baseiam quase
exclusivamente em informações provenientes desses grupos. A mesma Comissão
acusou a Santa Sé de provocar as violências contra os homossexuais, condenou a
Rússia por ter emanado uma lei que protege os menores de informações que
poderiam influenciar negativamente a sua saúde, enganando-lhes que os atos
homossexuais são iguais aos de uma relação sexual entre um homem e uma mulher.
Grupos homossexuais querem que as suas escolhas sexuais sejam abraçadas por
toda a sociedade e por isso a ONU é um outro instrumento para alcançar este
objetivo. É uma pena que uma série de organizações que promovem o aborto e o
matrimônio gay, os direitos sexuais para as crianças e coisas do tipo tenham
conseguido uma tal força dentro dos organismos das Nações Unidas. Estamos
falando de organizações fortes e mundialmente respeitadas como Amnesty
International e a Comissão Internacional dos juristas e de outros grupos de
mais recente formação, como o Centro para os direitos reprodutivos e Human
Rights Watch. O que aconteceu nos últimos 30 anos é que muitas organizações
para os direitos humanos – cujo objetivo era afirmar direitos civis e políticos
durante a Guerra fria – se encontraram sem causa após a queda do Muro de
Berlim. Então, concentraram a sua atenção sobre os direitos sexuais. O que eles
querem é transformar a autonomia sexual desenfreada em uma norma fundamental
dos direitos humanos. O aborto e a homossexualismo são simplesmente as
manifestações mais extremas da autonomia sexual desenfreada. Nos países
ocidentais, onde esta autonomia sexual ganhou um lugar privilegiado, essas
organizações foram financiadas por mais de 20 anos com bilhões de dólares
colocados à sua disposição para pagar litígios, educação, lobby e outros projetos
para promover as suas causas.
ZENIT: Neste contexto como é que C- FAM atua como uma
instituição voltada para os direitos humanos e familiares? Como vocês têm a
intenção de reagir a este relatório da ONU?
Gennarini: C -FAM lançou uma petição em apoio da Santa Sé:
www.defendthevatican.org . Esperamos apontar aos nossos amigos nas Nações
Unidas mais um exemplo de abuso por parte de comitês da ONU. Nos últimos três
anos, temos trabalhado em estreita colaboração com os diplomatas na Assembleia
Geral das Nações Unidas para reformar os órgãos previstos pelo tratado e
permitir-lhes funcionar corretamente no futuro. É importante que estes
especialistas tenham em conta este trabalho. É o único modo de garantir que se
evite no futuro opiniões extravagantes desse tipo. Até que os especialistas
possam interpretar os tratados como quiserem, isso continuará a acontecer. E,
naturalmente, continuaremos a tratar esses temas em www.c-fam.org
Tradução de Thácio Siqueira
Categoria: Brasil e o Mundo
Publicado em 10 de fevereiro de 2014
Fonte: http://www.zenit.org/pt/articles/onu-quando-a-politica-e-distorcida-pela-ideologia
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