sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Alexandre Garcia 02 de Fevereiro de 2010.

Lula no Paris-Dacar

Quando o presidente teve a crise de hipertensão, na semana passada, a ministra Dilma diagnosticou que ele andava num ”rally Paris-Dacar”, tal a atividade do presidente. Poderíamos imaginar que Paris seja a Presidência da República e suas responsabilidades e Dakar seja a chegada à eleição da sucessora. De um lado, as responsabilidades da presidência; de outro, os objetivos do político. Na presidência, ter que administrar o currículo, na campanha, ter que administrar a necessidade de subir a IBOPE da candidata, ter que manter o PAC protegido do TCU. Não há pressão sanguínea que agüente.

O presidente já passou por apertos semelhantes. Lembram-se quando estourou o primeiro escândalo? O braço direito do todo-poderoso ministro-chefe do gabinete civil tentando arrancar propina de um empresário de jogo? Depois vieram os mensaleiros no âmago de seu partido; depois vieram os aloprados, que até hoje não foram buscar os milhões da mala que a Polícia Federal apreendeu. O presidente passou por isso sem crise hipertensiva.

Como se não bastassem os companheiros a trazer-lhe problemas, ainda arranjou amigos estranhos. Ahmadinejah é uma unanimidade mundial como perigo para o Oriente Médio. Chavez é um boquirroto caudilho típico da primeira metade do século passado na América Latina. Evo só quer ganhar presentes da Petrobrás; se não der, ele toma. Lugo pretende lucros de uma usina em que o seu país só entrou com a margem do rio. E ainda por cima fica credor de 128 diárias num hotel de Tegucigalpa, chamado Embaixada do Brasil. Agüenta, coração!

O Presidente não pode dizer que não descansou. Passou na praia da Bahia, equilibrou isopor sobre a cabeça e certamente se desligou, enquanto em Angra e Ilha Grande as encostas desabavam. Depois ainda passou uns dias em São Bernardo. Mas quando voltou ao governo, descobriu que havia assinado o desastrado Programa Nacional de Direitos Humanos. Deve ter-se perguntado porque a dupla Vanucchi-Genro não entregou para o presidente interino assinar em Brasília. Tiveram que entregar o calhamaço na Dinamarca, onde sabiam que ele estava ocupado com a balela do “aquecimento global”. Quem sabe temiam que o José Alencar não assinasse. Alcem disso tinha o embargo do TCU a obras do PAC, inclusive a refinaria em Pernambuco e Lula iria visitar o governador de lá. Do PSB de Ciro Gomes. Explode, coração!

Ser presidente é um desafio para as artérias. Acaba a liberdade. O pobre só se movimenta na gaiola dourada dos palácios, viagens, banquetes, sempre cercado de seguranças, áulicos ou auxiliares temerosos. Não sobra tempo para atividades físicas e se exige muita comilança. Liga a TV, o rádio, abre os jornais e só tem notícia ruim para ele. Afinal, produzir notícia boa é obrigação dele, não dos jornalistas.Olha-se no espelho e vê cada vez mais cabelos brancos. No perfil, tem aquele aumento na cintura. Ainda que procure não preocupar-se para dormir bem, fica essa pressãozinha danada incomodando. Afinal, 12 de diastólica é para preocupar qualquer um.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias

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