domingo, 20 de março de 2011

SERRA CONTINUA ENGANANDO SEUS ELEITORES

Guerra da água, água da SABESP contaminada no litoral, e o bocó do Serra elogiando a SABESP no Twitter. Serra é sem noção do ridículo.Na periferia de SP, a falta de água pode ser tanta que os moradores fazem de “reféns” os funcionários da Sabesp

joseserra_ José Serra Boa notícia: Nos últimos 2 anos, a Sabesp caiu bastante na lista de reclamações apresentadas ao Procon. http://bit.ly/eVGPFn


ALENCAR IZIDORO

DE SÃO PAULO

“O moço da Sabesp acabou de passar. Avisei pra ele: vamos fazer reféns de novo.”
O alerta foi a primeira frase ouvida pela Folha ao parar terça passada no Jardim Papai Noel, em Parelheiros, extremo sul da capital paulista.
Não foi dado por nenhum criminoso contumaz, ladrão nem sequestrador. Mas também não é de brincadeira.
A ameaça de Francisca Alves Macedo, 48, dona de bar, com netos de 3 e 9 anos, já foi posta em prática neste ano.
É retrato de uma crise crônica de falta de água que assola alguns bairros da principal metrópole do país -mesmo num período chuvoso e com reservatórios cheios.
Nos últimos 90 dias, a água só tem atingido alguns pontos mais altos uma vez na semana -e por poucas horas.
Banhos de canequinha, economia na descarga e acúmulo de roupa suja não são nem a parte mais traumática.
A secura das torneiras já provocou a suspensão de aulas, de atendimento em posto de saúde e protestos que não se limitaram a ruas interditadas e pneus incendiados.

“SEQUESTRO”

Uma bomba da Sabesp foi alvejada a tiros no Jardim Santa Fé. Era só um recado, avaliam os funcionários.
A revolta de moradores já levou até a um tipo de “sequestro” de equipes da estatal retidas e só liberadas com a promessa de fornecimento.
Perto do Papai Noel, a tática de ter “refém” para ganhar água se deu há três semanas.
Um funcionário da Sabesp estava a trabalho e foi cercado por dezenas de mulheres, jovens e crianças. “Ficou desesperado”, conta Francisca.
O homem teve os pneus do carro esvaziados. E foi avisado: só poderia ir embora quando chegasse a água.
Lideranças comunitárias foram acionadas por chefes da estatal. “Ligaram preocupados. Queriam ajuda”, diz Luiz Antônio Amorim, de uma entidade afro-brasileira.
A soltura, após mais de uma hora, ocorreu diante de um protocolo de “garantia” do fornecimento à noite. A água não durou nem um dia.

“DAQUI NÃO SAI”

Assim como no Papai Noel, nas proximidades do Cantinho do Céu, também na zona sul, a situação foi tensa.
Outro funcionário da Sabesp, que procurava vazamentos, foi mantido quatro horas como “refém” no mês passado. Foi a primeira vez dele, em 27 anos na empresa.
A população ali estava havia cinco dias na secura. “A mulherada me segurou e falou: “daqui você não sai enquanto a água não voltar’”, relatou ele à Folha
A negociação foi difícil. O homem de 58 anos só conseguiu escapar após a chegada de um fiscal da companhia -que seguiu lá até a noite.
Cenas do tipo, com equipes ou veículos da Sabesp “confiscados” por moradores, já se repetiram em outras áreas das zonas sul e norte.
A estatal diz que foram “casos isolados”, “em períodos de maior intermitência” e junto com falta de energia.
Ela aponta três explicações para a recente seca na periferia. Primeiro, a alta de até 40% no uso de água em alguns lugares, devido a temperaturas recordes.
Segundo, quedas recorrentes de energia que afetaram bombas (que demoram meia hora até serem religadas) e prejudicaram a produção -num volume equivalente ao consumo de 150 mil habitantes em um mês.
Por fim, cita interferências por ligações clandestinas.
A Sabesp não revela estimativa de pessoas afetadas. Cita obras previstas para concluir de abril de 2011 até 2012.

BANHO, SÓ NA BAHIA

No Jardim Papai Noel, a falta de água crônica começou em dezembro, quando a piada em cada esquina era que a crise acabaria no Natal.
O presente não chegou. E as brincadeiras se voltaram para Valda Matos, 29. Após cinco dias sem conseguir tomar uma ducha, a mulher embarcou num ônibus para visitar parentes em Araci, cidade baiana do polígono das secas, onde viveu até 2002.
Foram mais de dois dias de viagem. “Parece brincadeira morar em São Paulo e só conseguir água para tomar banho no interior da Bahia.”
Para as mães, pior é a crise do abastecimento comprometer saúde e educação.
Das três escolas municipais na região de Parelheiros, que atendem 1.737 alunos, em duas a falta de água já interferiu nas atividades.
Na Emef Plínio Marcos, dos 16 dias em que haveria aulas no mês passado, em quatro elas foram suspensas.
Segundo a prefeitura, haverá um plano de reposição.
Na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Jardim São Norberto, os atendimentos dependem do improviso diário de um caminhão-pipa. Às vezes, ficam interrompidos.
Maricélia Evangelista Neto, 39, não conseguiu vacinar a filha de dois meses porque não havia água no posto.
“Não tinha nem para lavar as mãos. A vacina dela está atrasada”, lamentava a mãe.
A Secretaria da Saúde diz que segue a orientação da Vigilância Sanitária e Epidemiológica -e orienta a população a voltar depois ou a procurar outras unidades.

PEREGRINAÇÃO

Moradores dos bairros mais altos caminham quilômetros para áreas mais baixas em busca de água pelo menos para fazer a comida.
Outros pedem ajuda a vizinhos que têm poços de água -alguns rejeitam porque crianças passaram mal.
Jovelita Nobre Neves, 35, equilibra um balde de água na cabeça e seu filho de um ano no colo enquanto caminha pela ladeira de terra.
Leva no bolso a conta de água devidamente paga, no valor de R$ 14,83, -semelhante ao dos vizinhos.
A retomada do abastecimento por minutos provoca alvoroço. Logo começa a correria para armazenar água nos baldes e nas panelas.
Ou então, em uma piscina infantil de plástico, caso de Rita de Cássia Batista, 52, que exalta sua vantagem em relação aos vizinhos às vésperas do Dia Mundial da Água -celebrado na terça-feira, 22.
“Aproveitei a promoção e paguei R$ 49 na piscina, só para guardar mais água. Para quem já matou sede com chuva, pelo menos ajuda.”

Água do Guarujá é imprópria, aponta laudo
Folha de S.Paulo
A água distribuída na maior parte do Guarujá (86 km de SP) a partir do final de dezembro estava imprópria para consumo, de acordo com laudos elaborados pelo Instituto Adolfo Lutz, a pedido da prefeitura. Neste ano, pelo segundo verão consecutivo, o Guarujá passou por um surto de diarréia.
Foram ao menos 960 casos até os primeiros dias de janeiro. A fonte da contaminação não foi descoberta. No verão de 2010, quando os casos de diarreia chegaram a atingir 6.390 pessoas comprovou-se que o problema ocorreu no abastecimento público, segundo relatório da Vigilância Epidemiológica, órgão da Secretaria de Estado da Saúde.
No verão deste ano, a prefeitura local recebeu laudos de amostras de água retirada da rede da Sabesp em 40 pontos da cidade, como escolas, hotéis, creches e até mesmo em um centro de saúde, um hospital e nas instalações da Pastoral da Criança.
A coleta ocorreu entre os dias 15 de dezembro e 20 de janeiro. A água foi retirada dos cavaletes, antes de chegar às caixas, para garantir a confiabilidade dos testes. A qualidade da água foi considerada “em desacordo com a legislação” e “insatisfatória” em 37 das amostras.
A água contaminada pode transmitir infecções e doenças mais graves, como hepatite e até febre tifoide. A causa mais comum da baixa qualidade da água foi a concentração de coliformes, bactérias presentes nas fezes humanas e animais –29 pontos tinham o micro-organismo. A presença de coliformes na água, diz o padrão de testes realizados, deve ser zero.
Também havia amostras com excesso de cloro residual –o que resta após a fase de tratamento– e água com cor e turbidez fora do padrão.
Os laudos do Lutz não indicam possíveis causas para a contaminação. Em relação aos coliformes, os técnicos do órgão indicam a urgente necessidade de investigá-las. A prefeitura aplicou autos de infração de R$ 180 por cada um dos laudos. A Sabesp pode recorrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário