Quem diria. O dito “poste” da campanha eleitoral de 2010 vai se revelando uma estrategista política tão astuta que operou um milagre. Inauguramos, no Brasil, a feitiçaria política. Dilma Rousseff está presidindo o primeiro governo federal petista que, após um mês e meio de existência, não tem sido alvo de bombardeio midiático. Muito pelo contrário, Dilma tem recebido elogios e sido apresentada como vítima de uma absurda “herança maldita” deixada por Lula.
Em 2007, na aurora do segundo governo Lula, um mês e meio após a posse, o “caos aéreo” já fustigava o governo federal em manchetes bombásticas da grande imprensa. Em 2003, no primeiro mandato, o ex-presidente mal começara a governar e já era alvo de acusações da mídia de que o caos econômico do último ano de FHC – apenas mais intenso que nos três anos anteriores – era culpa sua.
A inflação, que chegara a quase oito por cento em 2001, em 2002 chegaria a doze – segundo o IPCA, do IBGE. A fuga de capitais se arrastava desde 1999, quando o Brasil teve que desvalorizar o real na marra, sem choro nem vela, porque terminava a farra cambial que reelegera FHC em um processo de mudança das regras do jogo que, nos últimos anos, a mídia vem dizendo antidemocrático, de um presidente alterar a Constituição para se permitir nova candidatura com vistas a permanecer no cargo.
No primeiro governo federal do PT ou no segundo, o início já foi de guerra. Nem o período de trégua que seria sensato conceder a quem iniciava o primeiro mandato em uma administração desmontada por forte crise financeira que se arrastara pelos últimos quatro anos, foi respeitado. Com Dilma, no entanto, está sendo diametralmente diferente.
Elogios. Vários e freqüentes. Como sempre, todos os colunistas no mesmo tom, repetindo a mesma tese de que o “estilo” de Dilma “agrada mais” – não dizem a quem, só que agrada mais –, e ela os vem recebendo tanto da mídia tucana quanto do seu maior ídolo político, aquele que lhe tem dado o tom nos últimos dezessete anos, Fernando Henrique Cardoso, que vem dividindo o amor midiático com José Serra, o outro queridinho da direita midiática.
E nem o feroz Serra tem sido antagônico com Dilma, limitando-se a resmungos comedidos, talvez por estar ciente de que não há ímpeto midiático de fustigá-la, falta de ímpeto que se vê, também, na maior parte da oposição, no baixo clero conservador, satisfeito com declarações sobre política externa e com o silêncio dela sobre os ataques incessantes a Lula em janeiro, ataques que têm arrefecido em fevereiro, por mais que persistam.
Tensa, a mídia espera reações de Lula, mas não de Dilma, que já se percebe que não baterá boca com os meios de comunicação, deixando ao padrinho político a missão de saciar-lhes a sede de manchetes e a fúria ideológica, no âmbito de uma derradeira tentativa dessa mídia de demonstrar poder de destruir quem a desafia, pois a resistência do eterno desafeto furta seu principal trunfo de “negociação” com a classe política.
De certa forma, é bom para todos, Lula, Dilma e mídia.
Lula, de seu lado, não tem nada a perder. Sua carreira política chega ao fim e os registros históricos lhe serão amplamente favoráveis, fora do calor da política partidária midiática. Não haverá historiador bom dos miolos que deixe de reconhecer o que ele representou para que ocorresse o salto histórico que o Brasil deverá dar na segunda década do século XXI. E, como ele disse, o êxito de Dilma será o seu êxito. Os brasileiros só querem que a indicada por ele não os decepcione.
Dilma, simplesmente porque está podendo governar sem sabotagem, ao menos até aqui.
A direita midiática, por sua vez, foge do desgaste de se mostrar intolerante com os governos petistas, depois de ter sido ignorada pela terceira vez em uma eleição presidencial, e pode deixar a impressão de que sua diferença com Lula não era partidária, mas produto de seus erros como governante, concentrando-se no lado histórico, no que ficará registrado para a posteridade sobre a atuação da imprensa na primeira década do novo século.
Dirão que o plano pode ser de Lula. Mais uma de suas estratégias brilhantes. Até pode ser, mas é Dilma que está sabendo não despertar a fúria midiática. Aliás, ao enfrentar os sindicatos na questão do mínimo fez um afago na mídia que não lhe custou nada porque Lula teria feito o mesmo, não teria cedido no valor do novo piso salarial do país. A política econômica é a mesma, tudo continua como dantes. Nem na tão propalada diplomacia há mudança de relevo.
Mas a forma como Dilma conduz as coisas dá uma diferença de tom, permite à mídia dizer que há diferença, que assim é que se faz e não como Lula fazia. A mídia, em seu entender – e, talvez, no de quem escreve esta análise –, fica por cima, como não tendo sido intolerante, mas, simplesmente, crítica de uma forma de governar e de se portar inadequada, a forma do ex-presidente.
Para um “poste”, Dilma não está se saindo nada mal. Ao menos do ponto de vista político. Isso, claro, ainda terá que ser confirmado por pesquisas sobre sua popularidade que, em algumas semanas, começarão a surgir. Porém, tudo indica que não haverá sobressalto, haja vista que não se tem notícia de piora no bem-estar social. Esse é o feitiço de Dilma: conseguir paz para governar. Que não se torne, porém, a paz dos cemitérios.
Autor: Daniel Pearl editor geral
Eduardo Guimarães
Em 2007, na aurora do segundo governo Lula, um mês e meio após a posse, o “caos aéreo” já fustigava o governo federal em manchetes bombásticas da grande imprensa. Em 2003, no primeiro mandato, o ex-presidente mal começara a governar e já era alvo de acusações da mídia de que o caos econômico do último ano de FHC – apenas mais intenso que nos três anos anteriores – era culpa sua.
A inflação, que chegara a quase oito por cento em 2001, em 2002 chegaria a doze – segundo o IPCA, do IBGE. A fuga de capitais se arrastava desde 1999, quando o Brasil teve que desvalorizar o real na marra, sem choro nem vela, porque terminava a farra cambial que reelegera FHC em um processo de mudança das regras do jogo que, nos últimos anos, a mídia vem dizendo antidemocrático, de um presidente alterar a Constituição para se permitir nova candidatura com vistas a permanecer no cargo.
No primeiro governo federal do PT ou no segundo, o início já foi de guerra. Nem o período de trégua que seria sensato conceder a quem iniciava o primeiro mandato em uma administração desmontada por forte crise financeira que se arrastara pelos últimos quatro anos, foi respeitado. Com Dilma, no entanto, está sendo diametralmente diferente.
Elogios. Vários e freqüentes. Como sempre, todos os colunistas no mesmo tom, repetindo a mesma tese de que o “estilo” de Dilma “agrada mais” – não dizem a quem, só que agrada mais –, e ela os vem recebendo tanto da mídia tucana quanto do seu maior ídolo político, aquele que lhe tem dado o tom nos últimos dezessete anos, Fernando Henrique Cardoso, que vem dividindo o amor midiático com José Serra, o outro queridinho da direita midiática.
E nem o feroz Serra tem sido antagônico com Dilma, limitando-se a resmungos comedidos, talvez por estar ciente de que não há ímpeto midiático de fustigá-la, falta de ímpeto que se vê, também, na maior parte da oposição, no baixo clero conservador, satisfeito com declarações sobre política externa e com o silêncio dela sobre os ataques incessantes a Lula em janeiro, ataques que têm arrefecido em fevereiro, por mais que persistam.
Tensa, a mídia espera reações de Lula, mas não de Dilma, que já se percebe que não baterá boca com os meios de comunicação, deixando ao padrinho político a missão de saciar-lhes a sede de manchetes e a fúria ideológica, no âmbito de uma derradeira tentativa dessa mídia de demonstrar poder de destruir quem a desafia, pois a resistência do eterno desafeto furta seu principal trunfo de “negociação” com a classe política.
De certa forma, é bom para todos, Lula, Dilma e mídia.
Lula, de seu lado, não tem nada a perder. Sua carreira política chega ao fim e os registros históricos lhe serão amplamente favoráveis, fora do calor da política partidária midiática. Não haverá historiador bom dos miolos que deixe de reconhecer o que ele representou para que ocorresse o salto histórico que o Brasil deverá dar na segunda década do século XXI. E, como ele disse, o êxito de Dilma será o seu êxito. Os brasileiros só querem que a indicada por ele não os decepcione.
Dilma, simplesmente porque está podendo governar sem sabotagem, ao menos até aqui.
A direita midiática, por sua vez, foge do desgaste de se mostrar intolerante com os governos petistas, depois de ter sido ignorada pela terceira vez em uma eleição presidencial, e pode deixar a impressão de que sua diferença com Lula não era partidária, mas produto de seus erros como governante, concentrando-se no lado histórico, no que ficará registrado para a posteridade sobre a atuação da imprensa na primeira década do novo século.
Dirão que o plano pode ser de Lula. Mais uma de suas estratégias brilhantes. Até pode ser, mas é Dilma que está sabendo não despertar a fúria midiática. Aliás, ao enfrentar os sindicatos na questão do mínimo fez um afago na mídia que não lhe custou nada porque Lula teria feito o mesmo, não teria cedido no valor do novo piso salarial do país. A política econômica é a mesma, tudo continua como dantes. Nem na tão propalada diplomacia há mudança de relevo.
Mas a forma como Dilma conduz as coisas dá uma diferença de tom, permite à mídia dizer que há diferença, que assim é que se faz e não como Lula fazia. A mídia, em seu entender – e, talvez, no de quem escreve esta análise –, fica por cima, como não tendo sido intolerante, mas, simplesmente, crítica de uma forma de governar e de se portar inadequada, a forma do ex-presidente.
Para um “poste”, Dilma não está se saindo nada mal. Ao menos do ponto de vista político. Isso, claro, ainda terá que ser confirmado por pesquisas sobre sua popularidade que, em algumas semanas, começarão a surgir. Porém, tudo indica que não haverá sobressalto, haja vista que não se tem notícia de piora no bem-estar social. Esse é o feitiço de Dilma: conseguir paz para governar. Que não se torne, porém, a paz dos cemitérios.
Autor: Daniel Pearl editor geral
Eduardo Guimarães
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