terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ARTIGO

TAPAJÓS: Um Rio a Conquistar

* Pe. Sidney Augusto Canto

Pedro Teixeira é considerado o “Descobridor da Foz do rio Tapajós” (apesar de haver sido precedido por outros, é bem verdade que ele foi o primeiro português a desembarcar e a tratar com o povo da margem do rio). Assim, os portugueses conheciam a foz do rio, mas faltava ainda conhecer a nascente.
Ainda no início do século XVIII, em 1706, foi organizada a primeira bandeira para o descobrimento da nascente do grande Rio. Era a tropa de resgate do Capitão Francisco Soeiro de Vilhena, incumbida de conquistar e resgatar os índios que viviam rio acima. Pelo que sabemos não obteve sucesso, pois ao chegar à Aldeia dos Tapajós, houve um desentendimento entre o capitão e os missionários. A ponto de passar a golpe de espada o padre Antonio Gomes, que auxiliava o padre Manuel Rebêlo na missão, que veio a falecer na Aldeia em 23 de junho de 1706.
A morte do padre Antonio foi um golpe que se mostrou mais nefasto para os colonos do que para a Companhia. Em parte, foi para proteger os índios que habitavam o rio acima que começaram a serem fundadas as missões de Vila Franca e Pinhel, dando mais segurança aos índios e aos missionários.
Em 1724 uma nova expedição foi lançada, dessa vez com a colaboração dos Jesuítas. O objetivo já não era somente resgatar índios ou fazer descê-los para as missões. Conforme podemos ler na Carta Régia de 17 de fevereiro de 1724, dirigida ao governador João Maia da Gama: “que as margens deste Rio são abundantissimas de cravo, o qual se tem tirado dele algumas vezes, mas com perigo, e há notícias de haver nele minas de ouro e prata, e deste metal se viram já algumas pedras, e se entende que tem muita riqueza”. Era o começo da corrida do ouro. Corrida essa que só veio a se concretizar de fato no último quarto do século XX. Pelo que consta, tal expedição chegou até as primeiras cachoeiras, logo acima do que hoje é Itaituba.
Contudo, a primeira viagem pelo rio Tapajós não foi subindo o rio, mas descendo. E isso aconteceu quase que por acaso. Estava o mineiro Leonardo de Oliveira a procura de novas minas de ouro, visto que as minas de Cuiabá estavam já com baixa produção à época. Foi o dito mineiro procurar ouro no rio Arinos, sem saber que o mesmo era um rio que dava origem ao Tapajós. Descendo as cachoeiras e corredeiras, não subiu de volta ao Mato Grosso, mas decidiu descer o rio, entrando no Tapajós e vindo a descobrir a ligação entre Cuiabá e Santarém, via rios Arinos e Tapajós.
O feito está relatado na peça manuscrita “Breve Notícia do Rio Tapajós, cujas Cabeceiras, Último, se Descobriram no Ano de 1742 por uns Sertanejos ou Mineiros de Mato Grosso, dos quais era Cabo Leonardo Oliveira, Homem Bem Conhecido, e dos Mais Experimentados dos Sertões das Minas”. Esta “Breve Notícia” foi escrita pelo padre jesuíta Manoel Ferreira, que a escreveu a 14 de agosto de 1751 e a remeteu ao superior dos jesuítas o padre Bento da Fonseca.
Contudo foi outro sertanista, chamado João de Sousa, que descendo o rio Tapajós em 1747 nos dá as melhores informações escritas sobre as nascentes do rio Tapajós. A partir das descrições deste sertanista, principalmente da sua “Breve informação que dá João de Sousa de Azevedo ao General do Estado do Maranhão, do descobrimento das Minas de Santa Isabel no Rio Arinos”, além de outros escritos do mesmo período, sabemos que em 19 de dezembro de 1746, vindo do Mato Grosso, ele alcançou o rio Arinos, e deste passou ao rio Tapajós. E assim, por volta das sete horas da manhã do dia 14 de fevereiro, chega à Aldeia de São José dos Matapuz (Pinhel). No dia 18 deste mesmo mês ele alcançaria a Fortaleza do Tapajós.
Os relatos de João de Sousa chegaram ao conhecimento do rei Dom João V, principalmente que ele de fato descobriu o ouro no lugar que chamou “rio das três barras”, diante do qual o Rei, de imediato, interditou a nova “via” para o comércio entre as províncias do Pará e Mato Grosso, ficando o posto fortificado da foz do Tapajós, responsável para fiscalizar toda e qualquer embarcação que pretendesse subir ao rio, inclusive as dos religiosos. Somente as drogas estavam autorizadas a circular regularmente. Tal decisão talvez fosse motivada pela tensão entre Portugal e Espanha pela posse das Colônias na América, se a Espanha tomasse conhecimento da existência de ouro e prata na região do Tapajós o tratado de limites entre as duas Coortes seria prejudicado em favor de Portugal que poderia perder a quase totalidade do que hoje é a Amazônia Brasileira.
Quanto a João de Sousa, caiu nas graças do senhor Rei e virou uma espécie de conselheiro do Estado. Sua epopeia, entretanto ainda é pouco conhecida e pesquisada.
Mesmo com a proibição da exploração do Tapajós, um baiano chamado Antonio Vilela do Amaral, em exploração de um igarapé afluente do rio Tapajós afirmou ter encontrado prata, que foi apresentada ao Governador Mendonça Furtado e ao Bispo Dom Miguel de Bulhões. Diante do fato, em 11 de janeiro de 1755, o Ouvidor Geral do Pará, João da Cruz Diniz Pinheiro, no igarapé Tapacará, localizado numa enseada a um dia de viagem com pouca diferença distante da grande cachoeira do dito rio Tapajós, tomava posse, em nome de Dom José I, Rei de Portugal, das minas de prata que se acreditava ali existir. Uma posse simbólica apenas, pois nada de concreto foi achado ou mesmo feito, com relação às minas do Tapajós. Mas a história haveria de continuar...
(*) É presbítero da Diocese de Santarém, membro da Academia de Letras e Artes de Santarém - ALAS e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós - IHGTap.

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