Acusado de explorar politicamente os
problemas de segurança em São Paulo, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça)
acusou ontem o governador Geraldo Alckmin de usar uma "mentalidade
ultrapassada" e tentar se eximir de responsabilidades.
A fala do petista é uma resposta às críticas
feitas pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e publicadas na edição da
Folha de segunda-feira.
Na semana passada, Cardozo, um dos cotados
para disputar o Palácio dos Bandeirantes, disse que o governo estava "à
disposição" para cooperar em relação aos protestos na capital paulista.
Para Nunes Ferreira, Cardozo esquece que é
ministro quando, por exemplo, oferece ajuda pela TV sem procurar o governo de
São Paulo.
Sérgio Lima/Folhapress
O ministro José Eduardo Cardozo em seu
gabinete, em Brasília; para ele, Alckmin tenta se eximir de responsabilidades
*
Empurra
Alckmin está reproduzindo uma cultura antiga
que é de empurrar a responsabilidade para o outro e não colocar luz num
problema que precisa ser resolvido. [...] A sociedade não tolera mais essa
mentalidade ultrapassada de dizer que a culpa é do outro sem que você cuide da
própria casa.
Ultrapassado
Ainda partem de uma mentalidade antiga de
imaginar que auxílio para o adversário é depreciação. [...] Triste que essa
mentalidade do século passado ainda perdure. A população não aceita mais isso.
Candidato
Quanto mais falo, menos parece que os tucanos
acreditam. Não sou candidato ao governo. O ministro Alexandre Padilha [Saúde] é
um um ótimo nome. Esse boato tem atrapalhado profundamente o diálogo. Tem feito
com que segmentos da oposição politizem o que não quero politizar. Está se
partindo de uma premissa de que estou politizando por uma candidatura que não
existe.
Abuso
O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de
uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e
no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes. Em São Paulo, vi jornalistas
agredidos, pessoas tiradas de dentro dos bares e sendo espancadas. O que me
espanta é que o senador [Aloysio Nunes Ferreira] reconhece que houve abuso. Ele
partiu da mesma constatação que eu parto. Só que a minha é oportunismo. E a
dele? Verdade. Os ânimos eleitorais estão à flor da pele.
Fronteira
Em vez de se enfrentar o problema olhando as
causas, solicitando maior integração, o que tem acontecido em São Paulo é
tentar ignorar as questões locais e dizer que o problema é das fronteiras. Os
números mostram uma visível melhora na ação do governo nas fronteiras. Então,
como se explica uma elevação da violência em São Paulo? Como se explica o pico
vertiginoso de violência em São Paulo entre o terceiro e o quarto trimestre do
ano passado, se no Rio não há essa escalada?
Eleitorização
Onde está o problema em querer somar forças?
Entender isso como oportunismo eleitoral me choca. Não foi assim com Alagoas. O
governador Teotonio Vilela nos pediu ajuda, e estamos juntos. Lá é PSDB. [...]
Depois de uma grande crise, conseguimos o início de uma cooperação com São Paulo.
Mas, infelizmente, perto do Rio e do nível de cooperação que temos com outros
Estados, como Alagoas, estamos ainda engatinhando.
Cifra
Só em segurança pública para os grandes
eventos foi gasto R$ 1,8 bilhão. O objetivo é o legado. É incrível que muitos Estados
brasileiros não tenham ainda seu centro de comando e controle. Estamos doando
para os 12 Estados. São Paulo irá receber. O Rio tem desde o Pan. São Paulo não
tem.
CATIA SEABRA
DE BRASÍLIA
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