Manifestantes saem às ruas em protestos pelo
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O internauta Carlos Sodré registrou imagens
do protesto em Belém (PA), onde houve enfrentamento entre policiais e
manifestantes Você manda/Carlos Sodré
De repente, seu rosto se fechou em um sorriso
tenso. Em seu olhar, projetado nos telões, era possível ver uma lágrima de
raiva antes que ele se fixasse no vazio, para frente, como se a presidente
Dilma Rousseff houvesse perdido a partida antes mesmo de começar. Durante mais
de vinte longos segundos, no sábado (15), durante a abertura da Copa das
Confederações, o público do estádio de Brasília, novinho em folha, vaiou seu
nome em um rugido ensurdecedor.
Do lado de fora, cerca de 1.500
manifestantes, alguns muito jovens, que foram fazer uma mixórdia de protestos
contra o custo de vida, a corrupção e o escândalo dos gastos abissais ligados
aos grandes eventos esportivos, eram rigidamente mantidos à distância pelas
forças policiais. Dentro e fora a imagem é impressionante e mostra até que
ponto o abismo entre o governo e o povo se aprofundou. Uma cena brutal que
ficará como uma das mais fortes desse movimento de protestos, que é o maior dos
últimos vinte anos.
Os gastos para a Copa de 2014 despertaram a
frustração dos brasileiros e colocaram em evidência o estado lamentável dos
serviços públicos (saúde, educação, transporte...). Acima de tudo, eles
acentuaram um sentimento de incompreensão quanto aos dirigentes dessa chamada
"nova classe média". Essa que viu seu poder de compra aumentar
ligeiramente ao longo dos dez últimos anos de governo do Partido dos
Trabalhadores (PT), mas que de repente se sentiu despossuída, excluída de um
crescimento do qual ela achava fazer parte.
As raízes do desencanto são profundas. Durante
meses, houve os repetidos ataques pelo caso de corrupção do chamado
"mensalão", que, no decorrer das audiências perante os juízes,
desgastou a imagem do ex-presidente "petista" Luiz Inácio Lula da
Silva, mentor e figura tutelar da atual dirigente. E a corrupção se tornou
"uma mancha num partido que se construiu em cima de um discurso
ético", escreveu uma jovem e célebre blogueira que adota o apelido de
Socialista Morena, no site da revista "Carta Capital".
O PT decepcionou seu eleitorado tradicional
de esquerda ao dar seguimento a uma tradição de alianças oportunistas com
partidos de todas as vertentes. A imagem de um partido "normalizado",
que se adaptou aos métodos de clientelismo e de trapaça política tradicional, não caiu bem.
O fato de que ele tenha aberto mão de começar
os trabalhos para a reforma agrária, do sistema eleitoral ou da saúde, outrora
bandeiras do PT, alimentou um certo cinismo. Ele também foi decepcionante em
questões de direitos humanos ao aceitar recentemente um pastor racista e homofóbico,
Marco Feliciano, para encabeçar uma comissão parlamentar. Seu nome é vaiado em
cada uma das manifestações que têm ocorrido. E ele decepciona também na forma
como vem lidando com as reivindicações dos sem-terra e dos movimentos
indígenas.
A esses sentimentos difusos se soma uma
sucessão de gafes. No dia 18 de maio, Dilma Rousseff criticou os
"pessimistas de plantão" durante a inauguração do estádio da capital.
O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo --enquanto as manifestações ainda não haviam
assumido a dimensão que se viu-- elevou o tom e afirmou que "o governo não
toleraria que manifestações perturbassem a Copa das Confederações".
A atitude soberba do protegido de Lula,
Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, fazendo pouco de "um movimento sem
liderança", ao lado de Geraldo Alckmin, o governador do Estado (oposição),
que havia chamado os manifestantes de "vândalos", causou a ruptura.
Dentro do PT, algumas vozes se levantaram
para alertar os dirigentes. O secretário municipal da Juventude em São Paulo,
Erik Bouzan, tentou conter o mal-estar afirmando que o movimento de protestos
não critica o "governo" diretamente e que é preciso "uma nova
política de transportes públicos". O mesmo pensa Duda Mendonça,
estrategista político e ex-conselheiro de Lula.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência
da República, Gilberto Carvalho, admitiu que o governo "ainda não havia
conseguido entender as razões do movimento". Na terça-feira, a presidente
Dilma Rousseff se mostrou mais conciliadora, afirmando que "é próprio da
juventude se manifestar". Ela prometeu que ouviria atentamente os
manifestantes. Tarde demais, evidentemente. Militantes do PT foram recebidos
por agressões, na quinta-feira à noite, na manifestação em São Paulo. Uma
bandeira do partido foi queimada.
Alguns meses atrás, Gilberto Carvalho havia
afirmado: "Não conseguimos produzir um movimento que permitisse o
nascimento de uma mobilização, novos valores e uma nova cultura". Tarso
Genro, governador do Rio Grande do Sul, fez um apelo por "uma transformação
política do PT" para reconsiderar o sistema de alianças adotado pelo
partido, algo que o partido "criticava quando estava na oposição".
Alguns dias mais tarde, a festa que celebrava
os dez anos do PT no poder ocorreu em São Paulo, seu feudo histórico, em um
clima pouco empolgante. "O país mudou", dizia o cartaz comemorativo.
Mas talvez não no sentido que os dirigentes pretendiam.
médiaNicolas Bourcier
No Rio de Janeiro 22/06/201306h00
Tradutor: UOL
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