O Ministério das Minas e Energia e a
Eletrobrás confirmaram em Belém que estão realizando estudos para construção de
mais duas hidrelétricas no Pará. 80 pesquisadores contratados por um consórcio
que inclui a própria Eletrobrás e outras empresas de energia no País estão
embrenhados na floresta, às margens do rio Tapajós, no oeste paraense,
monitorando fauna, flora, além da enchente, vazante, cheia e seca do rio,
considerado um dos mais belos, cuja área é composta por uma das maiores
biodiversidades do planeta e com grande potencial energético.
Na semana passada um grupo de índios
mundurukus denunciou a presença de militares da Força Nacional dentro da
reserva e o cacique veio à capital demonstrar a preocupação da tribo. Porém,
representantes do governo federal, em coletiva de imprensa ontem em Belém,
negaram que a área onde pretendem construir as hidrelétricas de São Luiz do
Tapajós e Jatobá esteja em reserva munduruku.
O diretor de Geração da Eletrobrás, Valter
Cardeal e o secretário executivo adjunto do Ministério das Minas e Energia,
Francisco Romário Wojcicki informaram que a Força Nacional está fazendo a
segurança dos pesquisadores que estudam a área. Também garantiram que os índios
e as populações tradicionais que habitam na região serão consultadas sobre o
projeto e que amanhã (10), em Jacareacanga, haverá o primeiro encontro do
governo federal com os mundurukus para tratar sobre o assunto. Porém, consultas
às comunidades, como determina a legislação ambiental, só serão realizadas em
outra etapa do projeto.
PESQUISAS
O estudo do ciclo do rio Tapajós está sendo
realizado desde março pelos pesquisadores em cinco estações construídas ao
longo do rio. Animais, vegetais e a própria água estão sendo coletados para a
pesquisa que vai indicar a viabilidade da construção das duas hidrelétricas, com
base no município de Itaituba, mas que deverão atingir diretamente também
Trairão, áreas compostas por populações tradicionais, índios, pecuária, além de
garimpos e várias florestas e parques nacionais, que serão atingidos pelo
barramento do Tapajós. No entanto, os representantes do governo federal
asseguram que o curso do rio não será alterado.
A pesquisa atual vai fundamentar a elaboração
do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), exigido pela legislação, com
estimativa de ser entregue ao Ibama, segundo Valter Cardeal, no começo de 2014.
A usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós deverá ter capacidade de geração de
8 mil Kw de energia e Jatobá outros 2 mil Kw. Mas o diretor da Eletrobrás
afirma que não há previsão para o inicio da construção nem para conclusão e que
o custo de todo o projeto deverá se igualar à usina hidrelétrica de Belo Monte,
orçada em R$ 25 bilhões até abril de 2010.
Valter Cardeal também afirmou que a
possibilidade já anunciada do Ministério Público Federal contestar
judicialmente os estudos no rio Tapajós “é um direito que os procuradores têm,
assim como é um direito do governo federal recorrer e “provar o outro lado da
necessidade de se construir hidrelétricas na Amazônia”.
Ele ressaltou o esgotamento do potencial
hidrelétrico dos rios do Nordeste e o grande potencial dos rios da Amazônia
para geração de energia considerada limpa e mais barata em relação à energia
eólica e solar.
Impactos socioambientais serão menores, diz
governo
Contrárias às usinas hidrelétricas
anteriores, inclusive Belo Monte, em Vitória do Xingu, sudoeste paraense, as
usinas de São Luiz e Jatobá serão diferentes desde a construção. Apesar de
afirmar que o impacto das hidrelétricas é sempre positivo, traz
desenvolvimento, eles reconhecem que exemplos de impacto social e ambiental
como a da usina de Tucuruí devem ser evitados, como os bolsões de miséria ao
redor do projeto. Na cidade polo, que deverá ser Itaituba, haverá ações de
educação, saúde e segurança pública. Mas segundo Valter Cardeal, o governo federal
não vai permitir êxodo de pessoas para a área e a maior parte de floresta
derrubada para construção de estradas, canteiros, entre outros espaços, será
recomposta com as mesmas espécies vegetais retiradas. É a chamada usina-
plataforma, que segundo Valter Cardeal e Francisco Romário é um marco nos
projetos hidrelétricos, que vai conferir desmatamento mínimo, cerca de 2% da
área das usinas.
(Diário do Pará)
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