Nos últimos sete anos, o ritmo de desmatamento na Amazônia
caiu quase 80%, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Mesmo assim, 640 mil
hectares de floresta foram derrubados em 2011. A devastação acontece
principalmente nessa época do ano, de clima menos chuvoso na região. O maior
índice de desmatamento está concentrado no Pará, estado onde ocorrem situações
impressionantes.
Quem navega pelas águas mansas do rio Xingu não imagina o
contraste. Ao lado da bela paisagem está um cenário desolador. Motosserras não
dão trégua e queimadas criminosas que deixam a selva em cinzas. Essa região,
no Pará, atualmente concentra os municípios que mais destroem a Amazônia
brasileira.
“Esse é um desmatamento que está fortemente ligado à
ilegalidade. Então, a exploração de madeira é ilegal, a produção de gado é
ilegal e a ocupação é ilegal", diz Paulo Amaral, pesquisador da Imazon.
A constatação é do Instituto de Pesquisa Paraense (Imazon)
que monitora a floresta há mais de 20 anos. De acordo com os cálculos dos
pesquisadores, nos últimos três meses, mais de 80% do desmatamento da Amazônia
se acumula nos municípios de Altamira, Itaituba e Novo Progresso.
Em uma operação realizada na região, fiscais do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
sobrevoaram as áreas onde a mata está sofrendo todo o tipo de ataque. Formou-se
um cemitério na selva. Até o rio morreu junto com a floresta. Em todos os lados
há fogo. Em alguns pontos, o excesso de fumaça impede a visão do horizonte.
A Floresta Nacional de Altamira, no oeste do Pará, é uma
região muito importante da Amazônia para a preservação da flora e da fauna,
controlada pelo governo federal. Doze pontos foram devastados recentemente
dentro da reserva do governo. Em um dos pontos, a floresta perdeu cerca de sete
mil hectares nos últimos 30 dias. Segundo os fiscais do Ibama, a trilha no meio
da floresta foi aberta, provavelmente, por madeireiros da região. As árvores
mais altas e mais valiosas já tombaram.
De acordo com o coordenador da operação, o ciclo do
desmatamento ilegal repete a mesma tática há muitos anos. "Num primeiro
momento chegam os madeireiros, que roubam as madeiras mais nobres para se
utilizar nas serrarias. Depois, vêm os grileiros que terminam de devastar a
floresta. Depois, tocam fogo e plantam capim para vender para pecuaristas do
resto do país”, diz Paulo Maués, analista ambiental do Ibama.
Para garantir a ocupação ilegal, muitas vezes o gado é
obrigado entrar com o chão ainda quente. Por terra os fiscais checaram outro
ponto de derrubada, identificado por imagens de satélite, que fica encostado na
Floresta Nacional de Altamira. Em menos de três semanas, 80 hectares tombaram.
Parte das toras estava pronta para o transporte. O trator foi queimado. O
responsável pela derrubada tentou fugir, mas foi alcançado e teve que se
explicar ao Ibama.
Osmar Dagetti é paranaense. Ele diz que é agricultor e há um
ano está no Pará. Mas andou também por Mato Grosso, o estado mais devastado da
Amazônia. “Ele estava passando o valor da sua multa. Mas eu pergunto como é que
eu vou pagar essa multa? Eu não vendi madeira", diz.
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A multa que Dagetti deve pagar é de R$ 350 mil. Talvez nunca
se saiba se ele vendeu madeira, mas encontrar o desmatador na região devastada
por ele é como achar uma agulha no palheiro.
O helicóptero do Ibama foi a madeireira na região, no
município de Novo Progresso, acusada de patrocinar derrubas e comprar madeira
de origem clandestina. De acordo com o instituto, quase 70% das toras
encontradas no lugar são de procedência ilegal, de áreas sem plano de manejo e
até de reservas florestais controladas pelo governo federal. Mas os madeireiros
encontraram uma maneira de tentar enganar a fiscalização.
Eles emitem as guias florestais no computador atribuindo uma
origem falsa à madeira. Parte do estoque, por exemplo, teria vindo da Ilha de
Marajó, a mais de mil quilômetros de distância de Novo Progresso. Desse jeito
eles esquentam as cargas que saem de áreas proibidas. "O documento que
legaliza essa madeira vem de longe, mas, na verdade, a extração está sendo na
própria regia”, diz Cristiano Rocha, agente ambiental da Secretaria de Meio
Ambiente do Pará.
A empresa que aparece nas guias comprando a madeira é de
fachada e deveria funcionar no galpão na cidade de Novo Progresso. Mas, na
verdade, a G.F. Oliveira só existe na placa. De acordo com os documentos
encontrados pela fiscalização, cerca de 200 caminhões carregados de toras
teriam saído do lugar só este ano, de janeiro a agosto.
Nessa região do Pará, a extração ilegal de madeira está
sempre acompanhada de outro crime revoltante: a exploração dos trabalhadores
contratados para derrubar as árvores. Há muitos acampamentos espalhados pela
floresta. Tudo nesses lugares é feito na base do improviso. Não há camas nem
banheiro e a cozinha fica no chão. O patrão, que é quem fornece a comida, cobra
caro pelos alimentos.
Um grupo foi resgatado pelos fiscais do Ministério do
Trabalho em outro acampamento. Anotações mostram que depois da empreitada o
peão ainda fica devendo ao patrão. Eles são escravizados e humilhados. Das 14
pessoas, quatro estavam com malária.
O madeireiro que escravizou os peões foi identificado e terá
de pagar todos os direitos trabalhistas e responder a um processo na Justiça
Federal. Mas na hora de se explicar, mandou advogados. O silêncio é lei na
região do interior do Pará. Só entre Novo Progresso, Itaituba e Altamira, a
Floresta Amazônica perdeu mais de 18 mil quilômetros quadrados, uma área maior
que o estado de Sergipe.
Do Globo Natureza, com informações do Globo Rural
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