terça-feira, 25 de maio de 2010

No Norte, gestão depende de ONGs

Na região Norte, a maior parte dos arranjos produtivos locais (APLs) está relacionada à biodiversidade da Amazônia. Desde fruticultura, passando por móveis de madeira certificada até produtos não madeireiros, tudo gira em torno da floresta. Mas o potencial para atrair o comprador estrangeiro esbarra nas limitações regionais de gestão empresarial.

"A presença do setor privado ainda é muito pequena. A maior parte da gestão desses APLs é feita por ONGs ou governos", coloca Eliany Gomes, coordenadora-geral do desenvolvimento regional da Suframa. Questões como oferta de tecnologia, crédito e capacitação de pessoal ainda são problemáticas nos Estados amazônicos. "Para agregar valor a esses produtos, as empresas precisam ter capacidade de crescer", afirma Eliany.

Para acelerar um pouco esse processo, a Suframa tem feito investimentos em infraestrutura para alguns arranjos, como foi o caso do setor moveleiro em Rio Branco e da extração de borracha em Xapuri. A meta é atrair as empresas aprimorando as instalações nos polos industriais - melhor acesso viário, maior oferta de energia e construção de galpões.

A noção de arranjos produtivos locais como elemento importante na organização e implementação de políticas de desenvolvimento tem crescido na região. "Nossos estudos mostram que praticamente todas as esferas de governo lidam com o conceito de APL e organizações de referência, como Banco da Amazônia, Sudam e Sebrae (PA) na esfera federal e diversas secretarias dos governos estaduais, se referem a ele em documentos e operações estratégicas", analisa Francisco Costa, professor da UFPA.

Há APLs, inclusive, que possuem programas direcionados para a baixa renda. Há bons exemplos, como de leite no Pará e o de artesanato do Amazonas. "Os resultados têm sido muito positivos, como o aumento na organização da governança local, melhoria da qualidade dos produtos, além da inovação e da competitividade que o APL acaba promovendo, resultando em maior agregação de valor ao produto", diz Marcos Otávio Prates, diretor de competitividade industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O próprio BNDES criou uma linha de crédito de R$ 100 milhões específica para esse setor de baixa renda.

Mas, além do apoio à pequena produção, existem casos de forte impacto de arranjos produtivos no comércio local, como exemplifica a festa religiosa Círio de Nazaré, que representa 4% do PIB da cidade de Belém.

A abordagem de planejamento e ação vinculada a APLs traz grandes vantagens por forçar a atuação sobre redes e contextos, ao invés das perspectivas tradicionais que visam estritamente a empresa individual. Trata-se da tradução para as políticas de desenvolvimento de ganhos teóricos enormes, que se verificaram nos últimos tempos no que se refere aos mecanismos de desenvolvimento. "Isso tudo exige uma nova forma de fazer política, de modo que os papéis dos mediadores políticos nessas formas modernas de arranjos institucionais e de atores possam se transformar em capital político - que gestores modernos que atuam com nova perspectiva possam transformar em voto sua modernidade", reflete Costa, da UFPA.

Local: São Paulo - SP
Fonte: Valor Econômico
Link: http://www.valoronline.com.br/

Por:Felipe Porciúncula



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