Na festa de inauguração da barragem do rio Setúbal, hoje (19), no castigado Vale do Jequitinhonha, a ministra Dilma Roussef (Casa Civil) não perdeu tempo. Assumiu com a voz embargada sua origem mineira e partiu para o confronto com a oposição, a quem acusou de planejar o fim no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais ambicioso projeto de Lula.
"Muitas pessoas tem dito nos últimos dias, aliás o próprio presidente do partido de oposição disse que acabaria com o PAC porque o PAC não existe e ele acabaria com essa história do PAC", disse a ministra. "É muito grave", ela insistiu. "Porque nós estamos aqui justamente inaugurando uma obra concreta e real que todos vocês sabem que existe e que está aqui ao lado."
A festa foi a primeira agenda de Dilma em território mineiro e tucano no ano em que pode sair candidata à sucessão do presidente Lula.
Embalada, a ministra falou grosso e insistiu no cerco aos oponentes. "Vira e mexe querem acabar com algum programa do governo Lula. Em 2006, foi a época que eles queriam acabar com o Bolsa Família. Agora o objetivo é acabar com obras como essa que estamos inaugurando."
Chamou os adversários para a briga, mas a Aécio dirigiu afagos. "Os prefeitos aqui de Minas e o governador Aécio Neves tem sido parceiros exemplares e republicanos do governo federal. Conosco eles têm enfrentado esse desafio que é mudar o Brasil. A barragem é uma obra do PAC com uma parceria muito produtiva e muito bem sucedida com o governo de Minas, com o governador Aécio Neves."
A barragem do rio Setúbal custou R$ 204 milhões aos cofres públicos - R$ 184 milhões da União, R$ 20 milhões do governo estadual.
Dilma se soltou e agradeceu a "recepção calorosa". Diante de três mil pessoas, ao lado do presidente Lula que a acompanhava e a deixou à vontade, ela atendeu ao apelo que havia sido feito minutos antes pelo prefeito Marlio Geraldo Costa (PDT), de Jenipapo de Minas, município de 7 mil habitantes, e prometeu imediata liberação de verbas federais para asfaltar dois trechos da BR 367, rodovia que corta parte de Minas e vai até a Bahia.
Não falou em valores, mas jurou que vai cumprir o prometido. Ovacionada, teve seu nome gritado em coro. Lula sorria.
Aécio Neves, do PSDB, governador de Minas e com índices elevados de popularidade por estas bandas, não estava no palanque. Mas era como se estivesse, tantas foram as vezes que a ministra e o presidente citaram seu nome amavelmente, o elogiaram e lhe desejaram um governo cheio de realizações, sucesso e "com muitas obras inauguradas".
Lula contou ter recebido segunda-feira carta de Aécio.
Nela, o governador justificava sua ausência no evento por causa de compromisso "em outro lugar".
Frases de efeito permearam o pronunciamento da pré-candidata na corrida ao Palácio do Planalto. "Vamos com isso (a barragem) perenizar as águas do rio Setúbal. Vamos ter aqui água de beber, água de criar gado, água de plantar, água para garantir a saúde das crianças e, sobretudo, água para viver."
Rebateu provocações de correntes do próprio PT, que dela exige assumir que é de Minas, e se emocionou. "Tem uma coisa muito estranha acontecendo com o lugar onde eu nasci. Eu nasci em Belo Horizonte. Eu passei a minha infância inteira em Belo Horizonte. Eu me formei no colégio Santa Dorothea em Belo Horizonte. Entrei na Universidade Federal em Belo Horizonte, fiz economia. Depois, por razões políticas, fui obrigada a sair de Minas, pela perseguição política que naquela época ocorria no Brasil. Agora, eu não vou concordar que haja uma discussão para saber se eu sou mineira ou não sou. Eu não tenho a menor dúvida que eu sou mineira. Em que pese eu ter saído de Minas, passado uma parte da minha vida no Rio Grande do Sul, eu quero dizer a vocês: a gente pode sair do Estado onde nasce, mas ele não sai da nossa alma e do nosso coração."
Quando assumiu o compromisso de arrumar dinheiro para cobrir de asfalto a estrada de terra, ela empolgou-se. "Aqui temos prefeitos e prefeitas que sabem que o PAC é uma obra concreta. Aí eu queria aproveitar e dar uma notícia para vocês. Há pouco o presidente determinou. Nós ligamos para o DNIT e o presidente decidiu que vamos agora prometer mais uma obra. Que nós iremos cumprir, o asfaltamento dos dois trechos da BR 367. Será novamente uma obra do PAC. O PAC é isso. Nós cumprimos o que prometemos."
Assegurou que ao governo que serve não interessa favorecer esse ou aquele partido. "Nós do PAC temos um princípio: levar para onde haja Brasil e brasileiros investimentos para fazer esse país avançar e crescer sem olhar filiação partidária, se o prefeito ou o governador é a favor ou contra, se faz oposição ou não."
Depois do discurso de Dilma , foi a vez de Lula assumir o microfone. Inicialmente , o presidente falou da carta que Aécio mandou. "É bom reconhecer que nesses 7 anos de governo ele (Aécio) esteve em todas as obras que eu vim inaugurar em parceria com o Estado de Minas", ressaltou.
Anunciou a estratégia para o ano eleitoral, que inclui maratona de viagens a Minas, sob forte domínio tucano. "Eu disse para o Geddel (Vieira de Lima, ministro da Integração) que nesses primeiros três meses de 2010 vamos precisar visitar muito Minas. Vamos precisar pegar todas as obras que têm aqui, e são muitas, para que a gente possa inaugurar tudo porque a partir de abril o Geddel já não estará mais no governo, a Dilma já não estará mais no governo. E quem for candidato não pode nem subir no palanque comigo. Então, é importante que a gente inaugure o máximo de obras possível para que a gente possa mostrar quem foram as pessoas que ajudaram a fazer as coisas nesse País."
Como Dilma, apontou críticas para os rivais. "Normalmente, a oposição não gosta que o governo inaugure obra. A oposição fica nervosa."
Jurou que, quando se trata de investimentos, torce até para quem não é do seu PT. "Eu fico sempre torcendo para que, seja um prefeito do DEM, do PSB, do PSDB, do PMDB, do PFL, de qualquer partido político, seja o governador Aécio, Deus queira que ele inaugure cada dia uma obra."
E desafiou. "Vamos acabar com a mesquinharia nesse País de que dois caciques da política fiquem brigando e quem come o pão que o diabo amassou é o povo pobre desse País. Eu torço para que o governador de Minas inaugure tudo o que ele tiver que inaugurar, e que o Patrus (Ananias, ministro da Fome) faça as concessões de todas as Bolsas Famílias que ele tem que fazer."
(Agência Estado)