A Fundação Nacional do Índio (Funai) está funcionando a meio vapor, apenas cumprindo rotinas burocráticas, há quase três meses. A razão disso é a dificuldade que o governo enfrenta para definir o nome do substituto do atual presidente, o antropólogo Márcio Meira. Ele comunicou ao governo, em dezembro, seu desejo de se afastar do cargo e, desde então, reduziu suas atividades internas, encontros e aparições públicas.
De acordo com servidores da Funai, o presidente demissionário aparece para assinar documentos, acompanhar programas em andamento e despachar com seu superior imediato, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O nome dele praticamente desapareceu do site de notícias da Funai e também de outros órgãos do governo.
O encarregado de encontrar o substituto é o ministro Cardozo. De acordo com informações de sua assessoria, a recomendação que ele recebeu do Planalto é para que a escolha recaia sobre um nome com perfil técnico, não necessariamente com vínculos políticos partidários. Algumas entidades de representação indígena já manifestaram ao governo o desejo de que o escolhido fosse um índio.
A tarefa é espinhosa. Ao contrário da maior parte dos cargos do governo, a presidência da Funai não é alvo de grandes disputas partidárias.
Fogo cruzado
Meira resolveu se afastar em meio a uma das muitas crises que a Funai costuma enfrentar. Era atacado tanto por indígenas, que o acusam de não tê-los consultados adequadamente em questões estratégicas, como a construção de hidrelétricas na Amazônia, como pelos deputados da bancada ruralista, que não lhe poupam xingamentos nos debates sobre a demarcação de novas terras indígenas.
Surgiram sinais de desconfiança até no interior do governo. Um dos principais críticos de Meira, o antropólogo Mércio Gomes, que dirigiu a Funai no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o acusa de ter deixado a instituição sobre o controle de organizações não governamentais do Brasil e do exterior.
A rotatividade no cargo é altíssima. Em 44 anos de existência, a Funai já teve 32 presidentes. Um deles, Otacílio Antunes Reis Filho, ficou na cadeira apenas 46 dias, em 2002. Outro nem chegou a sentar. Indicado para a presidência em 1985, Ayrton de Almeida [ABR. 1985]foi impedido por índios e funcionários de entrar no prédio da entidade, em Brasília.
Quem ficou mais tempo no cargo foi o general da reserva Ismarth de Oliveira. Presidiu a Funai durante a ditadura, entre 1974 e 1979. Em segundo lugar no ranking aparece Meira, que está no cargo desde abril de 2007. (AE)
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