A Sociedade Civil Organizada está preocupada
com o aumento do número de mortes por Aids no Estado. Pelos menos 1.426 pessoas
morreram vítimas da doença, segundo aponta o último boletim Epidemiológico do
Ministério da Saúde. Deste total de óbitos, 505 aconteceram somente em 2011, um
dado preocupante que revela o Pará no topo da lista de mortes por Aids na
região Norte. Para piorar a situação, as Organizações Não Governamentais (ONGs)
que trabalham na prevenção e combate à epidemia da enfermidade, além da
assistência dos pacientes, denunciam que faltam medicamentos na rede pública de
saúde para pessoas que vivem com o vírus HIV. A queixa também alerta para a
pouca quantidade de leitos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
“O governo já fala em 84 óbitos no ano
passado (2012), mas a gente sabe que esse número é maior”, colocou o presidente
da ONG Fórum Paraense de Aids, Cledson Sampaio. O militante não apresentou
nenhum documento que comprovasse os índices, mas ressaltou que, durante os
fóruns de discussões das entidades, correm informações de que morrem, em média,
de três a quatro pacientes de Aids por semana no Hospital Universitário João de
Barros de Barreto (HUJBB), referência no tratamento da doença no Estado.
“Se é verdade que estas mortes estão
acontecendo, temos uma faixa de 16 mortes por mês (seriam 192 mortes por ano,
somente no HUJBB), e não 84, como o governo disse. Isto prova que o Estado não
tem controle sobre o tratamento da doença ou alguma outra coisa está errada”,
desabafou Cledson.
A assessoria do hospital não confirmou as
informações e ressaltou que o Barros Barreto segue as regulações determinadas
pelo Ministério da Saúde. Quando um paciente de Aids vai a óbito, os dados são
repassados para o próprio Ministério da Saúde.
De acordo com o Boletim Epidemiológico, em
2009, 432 pacientes de Aids morreram em consequência da doença. Em 2010, o
total de óbitos aumentou para 489 e, em 2011, atingiu a faixa de 505 mortes por
Aids no Estado. Ou seja, a média de crescimento da mortalidade pela doença foi
de 17% em três anos.
Na capital paraense, a situação ainda é mais
alarmante, pois a taxa de mortalidade por HIV/Aids é quase o dobro da média
nacional. Enquanto que no Brasil a média de morte é de 6,31 para cada 100 mil
habitantes, em Belém os índices são de 13,71 casos por 100 mil habitantes.
Para a coordenadora estadual de DST/Aids,
Débora Crespo, a atitude das lideranças das ONGs é de causar estranheza, uma
vez que não se pode trabalhar com informações extraoficiais, pois ainda não
foram levantadas as estatísticas de 2012 relacionadas aos casos e óbitos de HIV
e Aids. O Boletim Epidemiológico será concluído somente em dezembro. “Não é
adequado eles discordarem, pois nem a gente tem algum dado oficial. O boletim
que temos é o de 2011, do qual eles já têm conhecimento. Os dados de 2012 serão
conhecidos somente no final do ano”, considerou Débora.
Ela desconhece o indicativo de 84 mortes por
Aids no ano passado. “Não temos nenhum número sobre isso, então não podemos
afirmar. O que sabemos é que em 2011 o número de óbitos foi de 505 e que 700
novos casos de HIV foram confirmados”, reiterou a coordenadora.
Medicamentos estão em falta na rede pública
de saúde
O coordenador do Fórum Paraense de HIV/Aids,
Cledson Sampaio, também denunciou a falta dos medicamentos Sulfadiazina e Ácido
folínico, que são entregues gratuitamente aos pacientes de Aids, para combater
a toxoplasmose (infecção oportunista que pode levar o paciente a óbito), uma
vez que eles possuem a imunidade sensível. “Estes medicamentos estão em falta
há alguns meses já na rede pública e isso é prejudicial aos pacientes”, frisou
o militante.
Segundo a representante do Grupo de Mulheres
Prostitutas do Estado do Pará, Amélia Garcia, que presta apoio a um grupo de
mulheres que vivem com HIV e Aids, os medicamentos estão em falta desde
setembro. “Eu acompanho a dona Rosa (52), que desde setembro tem que comprar os
remédios porque não encontra mais disponível na rede pública”, destacou. O
sobrenome da paciente foi preservado.
O acompanhante do paciente S.S.C, 38, também
denuncia a falta dos dois medicamentos. Ele passou dez dias sem tomar a dosagem
das medicações porque não encontrava os fármacos na rede pública. O caso dele é
ainda mais agravante porque teve o diagnóstico positivo para HIV recentemente.
Quando soube que estava com o vírus, a doença
já tinha se manifestado e estava em um estágio avançado. A internação era
necessária o quanto antes, mas isso só foi possível 20 dias depois que se
cadastrou na Central de Leitos.
O problema da falta de medicamentos foi
levado pelas ONGs ao secretário de Estado de Saúde, Hélio Franco, que se
comprometeu em verificar a situação e garantir que estes remédios básicos não
faltem mais aos pacientes. A ausência desses medicamentos na rede pública não
foi justificada.
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