quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

ONGs revelam a situação preocupante da Aids no Pará.


A Sociedade Civil Organizada está preocupada com o aumento do número de mortes por Aids no Estado. Pelos menos 1.426 pessoas morreram vítimas da doença, segundo aponta o último boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Deste total de óbitos, 505 aconteceram somente em 2011, um dado preocupante que revela o Pará no topo da lista de mortes por Aids na região Norte. Para piorar a situação, as Organizações Não Governamentais (ONGs) que trabalham na prevenção e combate à epidemia da enfermidade, além da assistência dos pacientes, denunciam que faltam medicamentos na rede pública de saúde para pessoas que vivem com o vírus HIV. A queixa também alerta para a pouca quantidade de leitos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

“O governo já fala em 84 óbitos no ano passado (2012), mas a gente sabe que esse número é maior”, colocou o presidente da ONG Fórum Paraense de Aids, Cledson Sampaio. O militante não apresentou nenhum documento que comprovasse os índices, mas ressaltou que, durante os fóruns de discussões das entidades, correm informações de que morrem, em média, de três a quatro pacientes de Aids por semana no Hospital Universitário João de Barros de Barreto (HUJBB), referência no tratamento da doença no Estado.

“Se é verdade que estas mortes estão acontecendo, temos uma faixa de 16 mortes por mês (seriam 192 mortes por ano, somente no HUJBB), e não 84, como o governo disse. Isto prova que o Estado não tem controle sobre o tratamento da doença ou alguma outra coisa está errada”, desabafou Cledson.

A assessoria do hospital não confirmou as informações e ressaltou que o Barros Barreto segue as regulações determinadas pelo Ministério da Saúde. Quando um paciente de Aids vai a óbito, os dados são repassados para o próprio Ministério da Saúde.

De acordo com o Boletim Epidemiológico, em 2009, 432 pacientes de Aids morreram em consequência da doença. Em 2010, o total de óbitos aumentou para 489 e, em 2011, atingiu a faixa de 505 mortes por Aids no Estado. Ou seja, a média de crescimento da mortalidade pela doença foi de 17% em três anos.

Na capital paraense, a situação ainda é mais alarmante, pois a taxa de mortalidade por HIV/Aids é quase o dobro da média nacional. Enquanto que no Brasil a média de morte é de 6,31 para cada 100 mil habitantes, em Belém os índices são de 13,71 casos por 100 mil habitantes.

Para a coordenadora estadual de DST/Aids, Débora Crespo, a atitude das lideranças das ONGs é de causar estranheza, uma vez que não se pode trabalhar com informações extraoficiais, pois ainda não foram levantadas as estatísticas de 2012 relacionadas aos casos e óbitos de HIV e Aids. O Boletim Epidemiológico será concluído somente em dezembro. “Não é adequado eles discordarem, pois nem a gente tem algum dado oficial. O boletim que temos é o de 2011, do qual eles já têm conhecimento. Os dados de 2012 serão conhecidos somente no final do ano”, considerou Débora.

Ela desconhece o indicativo de 84 mortes por Aids no ano passado. “Não temos nenhum número sobre isso, então não podemos afirmar. O que sabemos é que em 2011 o número de óbitos foi de 505 e que 700 novos casos de HIV foram confirmados”, reiterou a coordenadora.

Medicamentos estão em falta na rede pública de saúde

O coordenador do Fórum Paraense de HIV/Aids, Cledson Sampaio, também denunciou a falta dos medicamentos Sulfadiazina e Ácido folínico, que são entregues gratuitamente aos pacientes de Aids, para combater a toxoplasmose (infecção oportunista que pode levar o paciente a óbito), uma vez que eles possuem a imunidade sensível. “Estes medicamentos estão em falta há alguns meses já na rede pública e isso é prejudicial aos pacientes”, frisou o militante.

Segundo a representante do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará, Amélia Garcia, que presta apoio a um grupo de mulheres que vivem com HIV e Aids, os medicamentos estão em falta desde setembro. “Eu acompanho a dona Rosa (52), que desde setembro tem que comprar os remédios porque não encontra mais disponível na rede pública”, destacou. O sobrenome da paciente foi preservado.

O acompanhante do paciente S.S.C, 38, também denuncia a falta dos dois medicamentos. Ele passou dez dias sem tomar a dosagem das medicações porque não encontrava os fármacos na rede pública. O caso dele é ainda mais agravante porque teve o diagnóstico positivo para HIV recentemente.

Quando soube que estava com o vírus, a doença já tinha se manifestado e estava em um estágio avançado. A internação era necessária o quanto antes, mas isso só foi possível 20 dias depois que se cadastrou na Central de Leitos.

O problema da falta de medicamentos foi levado pelas ONGs ao secretário de Estado de Saúde, Hélio Franco, que se comprometeu em verificar a situação e garantir que estes remédios básicos não faltem mais aos pacientes. A ausência desses medicamentos na rede pública não foi justificada.


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