segunda-feira, 29 de março de 2010

Deputadeo Zé Geraldo é contra plebiscito para redivisão do Pará

BRASÍLIA- Não há consenso político algum, neste momento, entre os líderes partidários para aprovação do plebiscito para a criação das novas unidades federativas de Carajás e do Tapajós. Segundo o deputado federal Zé Geraldo (PT-PA), as últimas tentativas desenfreadas de aprovar o projeto no plenário da Câmara dos Deputados tiveram intuitos eleitoreiros. O deputado avalia que são necessários pelo menos dez anos de discussões sobre a divisão territorial do Pará para levar a uma consulta popular. Em entrevista a O LIBERAL, o deputado reforça que dificilmente a matéria conseguirá consenso e envolvimento político devido à forma que está sendo conduzida, com o retalhamento do Estado em três partes.

 O senhor, que conhece a realidade dessas regiões que estão pleiteando a emancipação, acredita que a divisão vai resolver os problemas da falta de recursos que elas alegam?

 Não. Definitivamente, não. Aqueles que defendem a bandeira da divisão usam muito esse argumento de que a divisão apressa as obras sociais que ainda não tivemos até hoje. Na verdade, não é bem assim. O que vai resolver a situação da estruturação das obras sociais no Pará são os investimentos que a União decidir. Por exemplo, o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) está fazendo isso porque nenhum Estado, por si só, tem condições de fazer obras estruturantes. Nenhum Estado fez até hoje. O Pará não fez, nem o Maranhão, nem o Tocantins... todos os recursos, na sua grande maioria, vêm do governo federal. Então, veja bem, aqui no Pará, a região oeste, onde se reivindica a criação do Tapajós, terá quase R$ 30 milhões de investimentos nos próximos anos, incluindo o asfaltamento da Transamazônica e da Cuiabá-Santarém, e a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Então, imagine, que nem o Pará e nem outro Estado, nem o Tapajós, conseguiria fazer isso em poucos anos, assim como a região do Carajás, com a hidrovia Araguaia-Tocantins e outras obras estruturantes, como o PAC do Saneamento. Em Marabá, por exemplo, tem um investimento grande, da ordem aproximada de R$ 100 milhões. Só a obra da duplicação da Transamazônica, dentro de Marabá, está custando R$ 100 milhões.

 Esses investimentos não reforçam o sentimento de que, mais fortalecidos economicamente, eles estão mais estruturados para as suas autonomias?

 Ao mesmo tempo em que você tem o argumento do abandono, por outro lado, quando se fala em justificativa econômica, essas obras acabam sendo incentivadoras da ideia da emancipação.

 E qual é essa conjunturdesfavorável no momento?

 Eu não acho prudente querer aproveitar para aprovar o plebiscito nesse momento porque, se aprovar o plebiscito agora, significa que você vai precisar organizar o plebiscito, fazer o plebiscito, porque aprová-lo e não fazê-lo não tem significado. E ao fazer o plebiscito nesse momento, na minha avaliação, as duas regiões correm risco de não terem esse plebiscito aprovado porque algumas lideranças estão tentando passar a ideia de que só as regiões votarão. Dizem que há como buscar um mecanismo de só as regiões que pretendem se emancipar votar. Mas isso não é verdade. Isso é uma informação não-verdadeira, porque todo o Estado do Pará vota. E, naturalmente, há um elemento que, na minha avaliação, não ajuda a bandeira da divisão territorial: estão trabalhando para dividir o Estado do Pará em três. Isto nunca aconteceu. Nós tivemos a divisão de Goiás e do Mato Grosso em dois, mas imagine quando se coloca a divisão do Pará em três. Isso impede ainda mais a formação de um consenso político no Estado. E, não havendo consenso político, não há nem autorização do plebiscito.

 Por que a pressa dos deputados?

 Têm uns deputados que estão pegando isso como bandeira de campanha eleitoral deste ano. Como eles não têm outra bandeira mobilizadora, eles acabam pegando essa bandeira para mobilizar. E criam uma expectativa que não é real. Criam a expectativa que esses estados já serão criados agora, no próximo ano. Agora, a situação no Congresso é tão crítica, é tão difícil que eles não conseguiram reunir consenso para aprovar nem a urgência da autorização do plebiscito. Inclusive, com a influência de deputados de outros estados, que pediram para retirar da pauta. Isso é só a urgência. Nem a urgência não passou... para você ver. Então, qual é o ponto que eu tenho defendido para todos: em não havendo um consenso político no Estado, dificilmente você cria um clima para aprovar o plebiscito, até de realizar o plebiscito (...). Agora, entre aprovar e fazer um plebiscito na conjuntura atual, é correr o risco de colocar uma população para testar a sua manifestação e acabar não tendo o apoio necessário.

 Na sua avaliação, quando será o momento certo para tratar desse assunto na Casa?

 Eu acredito que essa reivindicação, esse debate, tanto do oeste quanto do Carajás, vai continuar. Com certeza, daqui a algum tempo vamos ter que nos sentar e fazer uma conversa séria sobre esse tema (...). Mas o Pará, nesse momento, na minha avaliação conjuntural, nesses próximos dez anos, não tem como se dividir em três estados.

 Porque essas manifestações se intensificaram agora?

 Exatamente porque, nesse momento, ela se transforma em uma ferramenta de debate político. Ela é usada também para fazer disputa política. Algumas lideranças estão aproveitando dessas bandeiras para fazer mobilização política.

THIAGO VILARINS

Da Sucursal de O LIBERAL


Fonte: O Estado do Tapajos On Line

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