Apesar
de elogiar o desempenho da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel
Temer, principal líder do PMDB, disse que se criou a ideia de que todo
governante tem de se candidatar à reeleição, "mas esse não é um conceito
absoluto".
Segundo
ele, "tudo" está em jogo nas próximas eleições presidenciais.
"Quem foi bem deve se reeleger. Agora, o que vai acontecer em 2014 está
ainda muito distante."
Em
entrevista à Folha, na última quarta-feira, em seu gabinete, Temer também
mandou um recado indireto ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB,
cujos movimentos sugerem uma corrida ou à vice ou à Presidência em 2014:
"O apressado come cru".
Zanone Fraissat -
28.jun.12/Folhapress
O
vice-presidente Michel Temer (PMDB) durante lançamento de livro ocorrido em São
Paulo em junho
O
vice-presidente Michel Temer (PMDB) durante lançamento de livro ocorrido em São
Paulo em junho
Folha
- Por que, enquanto o PT e o PSB estão às turras em Belo Horizonte, Recife e
Fortaleza, o PMDB anda tão calado?
Michel
Temer - Acho melhor agir do que falar e, na qualidade de vice-presidente, eu
tenho de ser discreto, mas essa discrição não significa uma inação política.
O
melhor exemplo é Belo Horizonte?
É.
Contribuímos muitíssimo para a solução em Belo Horizonte, que é muito
importante para o PT. Eu percebi, aliás todos nós do PMDB, inclusive o
candidato Leonardo Quintão, percebemos, que deveríamos abrir mão da candidatura
própria, que tinha muito significado e peso eleitoral, para fazer a aliança
sólida com o PT. Uma aliança com repercussão nacional.
Para
neutralizar os arroubos do PSB e do governador Eduardo Campos?
O
PSB tem um papel a desempenhar no Brasil e no apoio importantíssimo que dá ao
governo e acho natural que busque ampliar seu raio de ação, especialmente nas
eleições municipais. Veja o PMDB: é um partido forte, significativo, pelo
número de governadores, prefeitos, vereadores, por ter a maior bancada na
Câmara e no Senado.
A
disputa do PSB com o PT nas eleições municipais é parte do jogo de 2014 e de 2018?
Disputas
locais não podem contaminar a aliança nacional. Isso precisa ficar claro.
Quando
Dilma reuniu líderes de PT e PSB, dois de cada lado, as orelhas do PMDB
arderam?
Se
arderam, foi do lado direito, porque, quando é do lado direito, dizem que é
porque falaram bem. Suponho que PT e PSB, juntos, só podem ter falado bem do
PMDB.
O
sr. tem certeza?
Tenho.
O PMDB colabora muito com o governo e com essa aliança. Então, se se reuniram
PT e PSB, eu tenho cá comigo, talvez com uma certa ingenuidade, eles só podem
ter falado bem do PMDB.
E
se não?
Problema
deles, porque o PMDB é um partido que tem vida própria, significação política
histórica.
Ao
sair do encontro com o PT e Dilma, Eduardo Campos disse que querem inventar um
"inimigo oculto" só para obterem favores fisiológicos da presidente.
Todo mundo entendeu que falava do PMDB.
Pois
o PMDB entendeu que o governador só poderia estar falando de outro partido
porque, para nós, essa história de fisiologia está superada.
Nesses
governos de coalizão, é mais do que natural que os partidos participem do
governo. Veja aí, PT, PSB, PMDB, todos participam. E, comparada numericamente
com os outros partidos, a participação do PMDB é a menor.
Já
que Campos falou genericamente sobre "fisiológicos", vamos falar
também em tese: tem gente na aliança botando o carro à frente dos bois?
Cada
um tem seu estilo. Eu acho que, em política, é preciso administrar o tempo,
porque quem se apressa acaba se dando mal. O apressado come cru. A afoiteza e,
mais do que a afoiteza, as palavras duras e deselegantes, acabam gerando um
clima muito desfavorável para as instituições. Numa democracia, as instituições
--e os partidos são instituições-- deverão ser sempre preservadas.
Isso
tudo é recado para Eduardo Campos?
Não...
o Eduardo Campos sabe muito mais do que eu.
Como
o sr. vê o embate do PSB com o PT?
Todas
as notícias eram de que as queixas do PSB eram contra o PT. Depois de umas
conversas é que, veladamente, começaram a dizer que a relação com o PT era boa
e o problema era com os outros. Como esses outros eram indefinidos, você tem de
ignorar.
O
PSB recuou de atacar o PT e se virou contra o PMDB?
Sabe
que eu acho que não? Até porque todas as conversas do Eduardo Campos comigo e
com todos do PMDB são sempre de parceria. Então, não vejo clima de
beligerância, pelo menos nas manifestações dele.
Quem
estaria, então, criando esse tal inimigo oculto do PSB e do PT?
Confesso
que não sei dizer. É preciso perguntar ao próprio Eduardo Campos. Aliás, seria
útil, até, que houvesse uma definição, porque essa coisa, digamos, muito
insinuante, em matéria política, não é nada bom.
Fala-se
muito que o que está por trás é a Presidência em 2014, mas não seria a Vice?
O
que está em jogo é tudo em 2014! Primeiro ponto é que, depois de instituída a
reeleição no Brasil, a ideia é a seguinte: quem foi eleito tem de concorrer à
reeleição, para não perder o poder. Estabeleceu-se esse conceito que não é um
conceito absoluto.
Segundo
ponto é que, havendo a reeleição, quem foi bem no governo deve se reeleger.
Agora, o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante. Quem está
pensando só em 2014 está sendo afoito, apressado. E, aí, come cru.
Tem
muita gente com inveja do PMDB e da vaga de vice?
Ser
vice-presidente, em especial na atual conjuntura, tendo como companheira a
presidente Dilma, é uma coisa muito boa, produtiva institucionalmente. É
natural, portanto, que haja inveja, mas é um sentimento negativo. Ela se volta
contra o invejoso. As pessoas devem é trabalhar de uma maneira que as habilite
a ocupar os lugares, seja de vice, seja de presidente.
A
disputa do PSB com o PT fortalece o PMDB?
O
PMDB já está fortalecido. A grande preocupação que existe em torno do PMDB já
revela sua força. Se você me perguntar se há divergências internas no PMDB, eu
vou dizer: há. Mas nós sabemos administrar essas divergências.
Como
o sr. se posiciona diante da resistência de Dilma aos nomes de Henrique Eduardo
Alves à presidência da Câmara dos Deputados e de Renan Calheiros e Romero Jucá
para a do Senado?
Posso
assegurar que não há isso, até porque no Senado é regimental, a presidência
cabe ao maior partido, e, na Câmara, há até um documento assinado por PT e PMDB
estabelecendo que a presidência será do PMDB no próximo biênio.
Dizer
que a presidente Dilma não quer o Henrique é equivocado. Ela jamais me disse
isso.
Foi
isso que o sr. acertou com Dilma e o presidente do PT, Rui Falcão, na
terça-feira?
A
presidente me chamou para fazer uma avaliação geral do quadro, só isso.
Se
o sr. fosse de outro partido e presidente, acharia conveniente ter o PMDB no
comando das duas Casas?
Acharia,
em face da lealdade do PMDB. Quando Sarney presidiu o Senado e eu presidi a
Câmara, foram tempos de muita tranquilidade para o presidente Lula.
Haverá
reações no PMDB se Dilma tentar impor o ministro Edison Lobão para o Senado?
Quanto
à presidente ter uma ou outra preferência, é mais do que legítimo, não
caracteriza interferência, mas quem decide é o Poder Legislativo.
Campos
disse que Lula está acima dos partidos e não deveria entrar na campanha.
Obviamente, um pedido para o ex-presidente não entrar na campanha do PT em
Recife. O que o sr. acha?
Em
São Paulo, seria muito útil para o [Gabriel] Chalita [candidato do PMDB] que
ele não entrasse, mas não acredito nisso.
ELIANE
CATANHÊDE
COLUNISTA
DA FOLHA
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