quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Marqueteiro de Obama vem ao Brasil ensinar políticos a usar internet na campanha

15/10/2009 - 18h55
GABRIELA MANZINI
TATHIANA BARBAR
da Folha Online

O marqueteiro americano Ben Self, que foi responsável pela campanha presidencial de Barack Obama na internet, classificou a web como indispensável em uma campanha política na era pós-Obama. Para ele, fazer uma campanha sem internet seria o mesmo que fazer sem a televisão --recurso essencial hoje para qualquer candidato.

"Por que você faria isso? Se você está conduzindo uma campanha, por que não usar tudo que for possível? Por que você faria uma campanha sem TV?", questionou.

Para Self, os números da penetração da internet nos lares brasileiros dá uma dimensão da capacidade de propagação da propaganda eleitoral espontânea e voluntária.

"Essa é uma boa base para voluntariado", disse ele ao comentar que o Brasil tem de 67 a 68 milhões de pessoas conectadas à internet.

Apesar da defesa da web, o marqueteiro disse que a tecnologia não resolve todos os problemas. Segundo ele, a internet é só um componente e campanhas precisam ser apaixonantes e emocionar o eleitorado. "A primeira coisa é criar algo pelo qual as pessoas estejam apaixonadas. Não era [a campanha do Obama] só online, o online era um componente", disse. "No fim das contas, pessoas gostam de pessoas e reagem a coisas com apelo emocional."

No Brasil, o uso da internet nas eleições entrou em discussão durante a análise da reforma eleitoral. Aprovada neste ano, a reforma libera o uso da web na cobertura eleitoral.

Entre as novidades aprovadas na reforma que devem pegar carona na campanha presidencial de Obama está a doação de pessoas físicas pela internet. No ano passado, o democrata bateu todos os recordes de financiamento de campanha, arrecadando US$ 742 milhões. Ao menos 54% deste dinheiro veio de doações menores de US$ 200, geralmente feitas pela internet.

Self questionou o sucesso no Brasil da doação pela internet. Ele lembrou que a relação entre os eleitores dos EUA e do Brasil com a política é diferente. "O on-line é uma combinação de coisas. Os americanos não estiveram sempre envolvidos com a política, principalmente com a cultura da doação."

O americano disse que é um mito que a internet alcança somente o público jovem. Segundo ele, a maioria das pessoas que estavam na plataforma de "fãs" do Obama, no site da campanha, eram mulheres entre 53 e 57 anos.

O jornalista Ricardo Kotscho, ex-secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, também defendeu a internet como instrumento de divulgação numa campanha eleitoral. Porém, disse que o conteúdo é mais importante que o meio de comunicação a ser utilizado na campanha.

No debate "A comunicação e as eleições de 2010 no Brasil", o publicitário Marcelo Simões disse que a internet não pode ser a protagonista de uma campanha eleitoral, mas deve ser uma ferramenta a mais a ser utilizada pela equipe de comunicação.

"Na campanha, devemos usar um conjunto de ações que devem caminhar para o mesmo lugar, o que inclui a internet", afirmou Simões, que nas eleições de 2008 atuou na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.

O diretor de políticas públicas e relações governamentais do Google, Ivo Correa, disse, no entanto, temer a febre na internet durante as eleições. Para ele, a web pode não ser tratada como deveria e descartada após o pleito. "Tecnologia não resolve eleição, ela dá oportunidade, mas vai depender da motivação do candidato", disse.

Reforma eleitoral

Como toda novidade, a liberação da internet causou polêmica. Alguns parlamentares tentaram impor restrições à web. As críticas à possível censura acabaram derrubando as proibições.

Com as mudanças, ficou liberada a atuação de sites jornalísticos, blogs e sites de relacionamentos durante a campanha. Os sites também podem realizar debates entre os candidatos sem as regras aplicadas às rádios e televisões.

Self comentou a reforma eleitoral aprovada pelo Congresso e a tentativa de restringir o uso da web na eleição. "Não sou expert [no assunto], mas nos Estados Unidos nós temos mais possibilidades de fazer propaganda [na web] do que no Brasil."

Ele participou hoje em São Paulo do primeiro seminário internacional de Estratégia de Comunicação e Marketing "O efeito Obama", que trata das estratégias da campanha presidencial de Obama nos Estados Unidos.

PT

Self desconversou sobre um possível encontro com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT à Presidência, e o publicitário de sua campanha João Santana.

"Temos vários clientes. Se eles [Dilma e Santana] têm interesse [em divulgar uma possível conversa], eles que devem falar e não a gente. Pergunta para eles. Não falo sobre possíveis clientes", afirmou Self. "Tem muitas coisas loucas escritas na mídia brasileira."

O PT pretende usar na campanha de Dilma a mesma estratégia de captação de votos pela internet utilizada pela equipe de Obama. Informalmente, os petistas começaram a trocar informações com o marqueteiro americano. Oficialmente, a parceria com Self está prevista para ocorrer por intermédio de Santana.

PUBLIFOLHA/PUBLIFOLHA


Os petistas negam que tenham fechado um contrato com o marqueteiro de Obama, uma vez que a legislação brasileira impede a contratação de empresas estrangeiras para consultoria política. Nos bastidores, porém, as conversas com Self já começaram.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), disse no mês passado que se reuniu com Self para trocar experiências sobre as campanhas políticas na internet.

Berzoini disse que foi uma conversa "informal", ocorrida a pedido de Santana. "Quem vai decidir sobre contratações é quem cuida da campanha. O João Santana tem contato com ele e me pediu que o recebesse", afirmou.

O secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, também participou do encontro com o marqueteiro de Obama. Ele disse que Self fez uma rápida apresentação sobre as suas estratégias de campanha na internet.

Os petistas pretendem investir na rede mundial de computadores para difundir a campanha de Dilma, inclusive no que diz respeito à arrecadação de recursos para a futura candidata.

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