Na
gestão de Couto, empresa registrada na Alepa como fabricante de tapioca
prestava inúmeros "serviços"
Irregularidades
nunca apuradas envolveram até a ex-mulher de Couto, que foi apelidado de
"Tapiocouto"´na época
A
Comissão Externa da Câmara Federal, que esteve em Belém na semana passada,
trouxe mais elementos para as investigações do Ministério Público do Estado
sobre as fraudes na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
Segundo
a denúncia, que foi veiculada ontem (18) pela TV Liberal, a empresa JC
Rodrigues de Souza, de propriedade de José Carlos Rodrigues de Souza, é
registrada como fabricante de farinha de tapioca e derivados, mas sempre saía
vitoriosa de licitações da Casa para serviços diversos.
A
firma forneceu materiais elétricos e prestou obras de engenharia, entre os anos
de 2005 e 2006, recebendo mais de R$ 2 milhões pelos serviços.
O
presidente do Poder era o atual senador Mário Couto (PSDB) e a integrante da
Comissão de Licitação era a ex-mulher do empresário, Daura Irene Xaver Hage,
que chegou a ser presa temporariamente durante as investigações do MPE.
Em
2007, a ex-deputada Regina Barata (PT) chegou a denunciar o caso no plenário da
Alepa, mas os crimes não ganharam nada além de manchetes nos jornais. Na
ocasião, o ex-presidente da Alepa ganhou o apelido de “Tapiocouto”.
A
referida empresa, cujo nome fantasia é Croc Tapioca, também fornecia farinha de
tapioca que era usada na Assembleia para servir mingau aos deputados e
assessores em plenário.
A
matéria da TV Liberal exibiu notas fiscais comprovando que a JC Rodrigues
forneceu material elétrico para a Alepa no valor de quase R$ 80 mil, em março
de 2006.
A
reportagem também exibiu a assinatura de Daura no processo licitatório que teve
a firma do ex-marido como vencedora.
Outra
nota fiscal, de maio do mesmo ano, emitida pela empresa Tópicos Comércio de
Gêneros Alimentícios Ltda, venceu a licitação da Alepa de R$ 148 mil para
reformar o auditório e a galeria de ex-presidentes da Casa.
A
Tópicos tem o mesmo dono e o mesmo endereço da Croc Tapioca, em Icoaraci, mas
não tem registro no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), o que
garantiria a habilitação para realizar obras.
DOCUMENTOS
NO DETRAN
Uma
parte dos documentos das licitações da Croc Tapioca foram encontradas no
gabinete do então superintendente do Detran, Sérgio Duboc. Ele foi diretor
financeiro da Alepa na época em que as licitações suspeitas foram realizadas.
Duboc
estava no Detran por indicação de Mário Couto e saiu do cargo devido ao
escândalo do Legislativo. Ele é um dos investigados no caso, assim como Daura e
Couto.
O
deputado federal Cláudio Puty (PT/PA), que integra a comissão externa da
Câmara, disse que os indícios de irregularidades são fortes. O advogado Américo
Leal, falou em defesa de Daura Hage na reportagem da TV.
Ele
defendeu a honestidade da servidora da Alepa e disse que ela era subordinada e,
portanto, cumpria ordens. “Ela é funcionária que não tem alto grau de
funcionalidade como se quer atribuir”, disse Leal.
Daura
é parente do ex-deputado e atual secretário de Estado de Trabalho, Emprego e
Renda, Júnior Hage, e da mãe dele, a conselheira do Tribunal de Contas, Rosa
Hage.
Prazo
para banco vai até amanhã
Amanhã
termina o prazo para o Banpará entregar ao Ministério Público do Estado os
documentos da quebra do sigilo bancário da Assembleia Legislativa do Pará.
Por
determinação do juiz Helder Lisboa, da 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital,
dada no último dia 28, o banco deverá entregar os extratos com toda a
movimentação bancária realizada pelo Poder desde janeiro de 1994 até os dias
atuais.
O
banco combinou com o MPE que entregaria parte dos documentos ainda na semana
passada, mas descumpriu o acordo.
O
presidente da Alepa, deputado Manoel Pioneiro (PSDB), contatou o promotor de
justiça Nelson Medrado dizendo que levará cópias dos mesmos dados bancários na
tentativa de dar uma demonstração de boa vontade com a apuração dos desvios de
recursos na Casa. A entrega dos documentos pelo banco estaria sendo adiada a
pedido de Pioneiro, que quer realizar o procedimento na frente.
O
promotor Medrado está de olho no prazo do Banpará. Ele disse que não vai
titubear em ajuizar processos penal e por crime de improbidade administrativa
contra o banco, caso o prazo seja descumprido.
O
Banpará vai repassar cerca de 60 mil documentos que deverão ser formalmente
entregues na 1ª Vara da Fazenda e, de lá, serão enviados ao MPE. Pioneiro teria
feito um comunicado ao banco para abrir o sigilo da instituição ao MPE, apesar
da medida já ter sido determinada pela Justiça.
Independentemente
do material que será entregue por Pioneiro, a iniciativa não isenta o banco de
cumprir integralmente a determinação. Pioneiro vai combinar com Medrado a hora
e o local da entrega dos extratos.
Ontem,
o ex-deputado Adamor Aires (PR) procurou espontamente o MPE para explicar sobre
o suposto envolvimento de dois servidores do gabinete dele no esquema de
corrupção da Assembleia, conforme publicado na última edição da revista Carta
Capital.
Aires,
que foi deputado até o ano passado, disse que as acusações são “levianas”, pois
desconhece e até duvida da participação nos crimes de qualquer dos funcionários
que foram lotados no gabinete dele. “Eu procurei o promotor de Justiça Milton
Menezes. Ele disse que não tem nada contra mim. Mas eu vim conversar com o
promotor Arnaldo Azevedo para pedir informações e me colocar à disposição”.
Aires
que não concorreu à reeleição, pois pretende disputar a próxima eleição
municipal em Santa Luzia do Pará, no nordeste do Estado, acredita que os demais
deputados não sabiam das fraudes que aconteciam na Assembleia, caso contrário,
já teriam sido reveladas a mais tempo. “Estou perplexo com isso tudo”,
declarou.
APOIO
O
PR promete decidir até a próxima terça-feira (24) se vai apoiar ou não o
requerimento que pede a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) para apurar as irregularidades que imperaram no Poder Legislativo
estadual durante toda a gestão do ex-presidente da Assembleia Legislativa,
Domingos Juvenil, do PMDB.
Segundo
Raimundo Santos, líder do partido na casa, a bancada tem se reunido
constantemente para debater o assunto. Na Assembleia, além de Raimundo, outros
três deputados fazem parte da legenda: Celso Sabino, Luzineide e Eliel
Faustino.
Ou
seja, caso eles resolvam apoiar a CPI, o requerimento proposto por Edmilson
Rodrigues (PSOL) contará com uma assinatura a mais do que as 14 necessárias
para que a comissão saia do papel. Atualmente, o documento possui onze
assinaturas.
“De
princípio, a bancada não estava propensa a assinar, porque aguardava a
finalização da sindicância. Depois, achamos que a sindicância não foi
suficiente, mas o presidente (Manoel Pioneiro) se propôs a apresentar todos os
documentos solicitados pelo Ministério Público. Ultimamente, com o agravamento
das informações, voltamos a nos reunir e refletimos que a Casa tem a
necessidade de dar uma resposta política à sociedade”, declarou Raimundo
Santos.
Sobre
a realização de uma auditoria externa para analisar a folha de pagamento e
finanças da Casa, Raimundo Santos disse ser favorável. “Não é só pela
transparência. Mas teremos mais condições de minudenciar os levantamentos que
precisamos. É preciso uma empresa com profissionais renomados para dar uma
avaliação mais efetiva dessa casa”, defende.
Durante
a reunião de Pioneiro com alguns líderes de bancada da Casa, o líder do PR foi
convidado para ser o ouvidor da Assembleia. Porém, ele ainda não deu uma
resposta.
“Eu
só aceito depois de avaliar, saber qual a estrutura que eu vou ter para a ouvidoria
funcionar e se houver concordância de todos os partidos”, disse Raimundo, que
explicou ainda que o departamento será uma ligação entre a Assembléia e a
sociedade.
EDITAL
FECHADO PARA CONTRATAÇÃO DE AUDITORIA
Na
próxima semana deverá ser divulgado o edital do pregão eletrônico que a
Assembléia Legislativa realizará para contratação da empresa que fará auditoria
na folha de pagamento e finanças da Casa.
O
assunto foi discutido na terça-feira, durante reunião entre o presidente do
Poder Legislativo, Manoel Pioneiro (PSDB), e demais membros da mesa, que se
posicionaram favorável à realização de uma auditoria externa.
Pioneiro
informou que aguarda apenas a conclusão do edital com detalhes da licitação.
“Tem mais de uma semana que estamos aguardando isso.
Precisamos
passar a limpo algumas coisas da Casa. Todas as medidas que nós dissemos que
iríamos tomar estamos tomando”, afirmou o tucano.
Em
coletiva à imprensa, no final da manhã de ontem, o presidente da Assembléia
respondeu às declarações feitas pelo procurador do Trabalho, Sandoval Alves, de
que os números de comissionados e temporários revelados pela atual gestão da
casa não são confiáveis, porque divergem das informações prestadas
anteriormente pelo Poder Legislativo.
“Ele
(Sandoval) nunca me solicitou nenhuma informação. Os dados que eu estou
passando são os atualizados. Os de outubro eram referentes aos antigos
deputados. Todos os dias os números mudam para mais ou para menos.
Depois
que eu fui presidente, (os promotores) não solicitaram os números atuais. Eu
não posso aceitar que digam que as respostas da Assembleia são “inconfiáveis”
porque hoje é uma nova administração”, declarou.
Sobre
a decisão judicial que obriga a Assembleia Legislativa a exonerar cerca de
1.300 servidores, Pioneiro disse que o assunto vai continuar sendo debatido com
as lideranças para que se possa “chegar a um denominador”.
Ele
enfatizou, no entanto, que mesmo havendo redução no número de secretários
legislativos, a verba por gabinete para pagamento de pessoal continua sendo a
mesma, pois representa 75% da verba que tem direito os deputados estaduais, ou
seja, R$ 47,5 mi.
OAB
defende sequestro dos bens de envolvidos no esquema da Alepa
A
indisponibilidade e o sequestro dos bens dos envolvidos no desvio de recursos
da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), além da prisão preventiva e da perda
dos direitos políticos, deverão ser pedidos pela Ordem dos Advogados do Brasil
Seção Pará (OAB-PA) ao Ministério Público do Estado.
A
diretoria da OAB-PA aprovou os pedidos, elaborados pelo presidente da
seccional, Jarbas Vasconcelos, mas o assunto ainda será apreciado pelo Conselho
Seccional antes de ser remetido ao MPE.
O
sequestro dos bens servirá para garantir o futuro ressarcimento ao erário
público, já que o trâmite das ações podem chegar a 15 anos. “A punição tem que
ser aplicada com todo o seu rigor para que não aconteça o descrédito”, defendeu
Vasconcelos.
Os
pedidos serão analisados pelo conselho numa sessão reservada, na próxima quarta-feira
(25).
Fraudes
em licitações, contratos e na folha de pagamento podem ter resultado no desvio
de milhares de reais, ainda em levantamento.
O
presidente da OAB-PA argumenta que já existem indícios suficientes de autoria
para que sejam solicitadas as prisões dos responsáveis pelas fraudes. “O
primeiro a ser preso deve ser o Domingos Juvenil (PMDB)”, destacou,
referindo-se ao ex-presidente da Casa de Leis, sobre o qual recai a
responsabilidade pela maioria das irregularidades já apuradas.
Vasconcelos
também defendeu a prisão da ex-chefe da Divisão de Pessoal da Alepa e principal
fonte das denunciante dos crimes, Mônica Pinto. “A confissão não exime de
prisão”, disse.
Segundo
ele, o pedido de prisão se ampara na manutenção da ordem pública. “Queremos
dissipar o sentimento de impunidade, de que os ricos têm mais direitos do que
os pobres. A gravidade dos crimes levou à uma comoção social.
O
povo não acredita que essas pessoas serão presas”, destacou. Com relação à
indisponibilidade e sequestro dos bens dos envolvidos, a ordem quer prevenir
que os bens particulares adquiridos com o enriquecimento ilícito dos criminosos
não sejam transferidos para os nomes de terceiros e nem sejam evadidos.
CAMINHADAS
A
OAB-PA planeja realizar duas caminhadas, sendo a primeira no próximo dia 28, em
protesto pelas fraudes na Alepa. Durante a “Caminhada Cívica contra a
Corrupção, pela Paz e pela Vida”, que sairá da sede da ordem até o MPE, serão
recolhidas assinaturas de entidades e de cidadãos em apoio aos pedidos de
prisão e de indisponibilidade e sequestro dos bens e suspensão dos direitos
políticos dos envolvidos.
Os
pedidos da OAB não indicarão os nomes a serem atingidos pelas medidas. O
indiciamento é competência do MPE.
Fonte:
O Liberal
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