Uma
nova análise, feita com base nos dados do satélite caçador de planetas Kepler,
sugere que ainda estamos bem longe de encontrar um gêmeo perfeito da Terra.
A
conclusão a que chegou John Rehling, cientista da computação do Dartmouth
College e da Universidade de Indiana que já trabalhou para a Nasa, é
desanimadora.
Segundo
ele, das 156 mil estrelas que o Kepler monitora em busca de planetas, apenas 27
devem ter uma Terra legítima, em termos de tamanho e órbita. O que significa
dizer que será preciso um pouco de sorte para que alguma delas seja encontrada.
De
cara, ele confirma o que os cientistas envolvidos com o Kepler têm dito a cada
nova divulgação de dados: "Estamos encontrando cada vez mais planetas
pequenos como o nosso e cada vez mais planetas suficientemente afastados de
suas estrelas".
O
problema é que, depois de uma análise estatística rigorosa, Rehling percebeu
que há um senão desagradável nessa informação: em geral, quando o planeta tem o
tamanho da Terra, não tem órbita similar, e vice-versa.
Editoria
de arte/folhapress
Antes
de mais nada, é importante qualificar os dados em que a análise se baseia. O
Kepler detecta planetas pelo método do trânsito (que enxerga a passagem do
planeta na frente de sua estrela). Ele tem limitações na detecção de sinais e
precisa de múltiplas ocorrências para confirmar a presença de um astro.
Então,
as toneladas de potenciais trânsitos detectados são tratadas, em geral, como
"candidatos a planeta".
Por
isso, Rehling teve de partir da premissa de que os candidatos, embora
certamente não sejam todos reais, são proporcionalmente representativos do que
de fato é real.
Em
seguida, ele tratou de criar fatores que compensam os vieses observacionais do
próprio satélite, que tende a observar mais planetas mais próximos e maiores.
Enfim,
criou uma tabela que mostra como se distribuem os planetas segundo porte e
período orbital (quanto tempo levam para dar uma volta em torno da estrela).
TÍPICO
E ATÍPICO
"No
geral, vemos que o Sistema Solar é qualitativamente típico ao ter planetas
maiores mais afastados [do Sol] que os menores", diz Rehling.
"Contudo,
ele é quantitativamente atípico. Embora o Kepler nos mostre que há quase
certamente vários planetas em cada estrela, ele também indica que o Sistema
Solar tem uma distribuição bizarramente espalhada quando comparada à de
sistemas planetários típicos."
O
resultado, se estiver correto, levará a humanidade a refletir um pouco mais
sobre o real significado do "princípio copernicano".
Assim
chamado por fazer referência à teoria de Nicolau Copérnico, que no século 16
colocou a Terra apenas como um planeta girando ao redor do Sol (em vez de ser o
centro do Universo, como se achava), o princípio postula que não há nada de
especial em relação ao nosso planeta, se comparado à média cósmica.
Entretanto,
se as condições terrestres são raras na escala astronômica (um punhado de
planetas para cada centena de milhares de estrelas), o Sistema Solar, apesar de
ser apenas um de muitos, passa a ser um lugar interessante.
Os
astrônomos ainda pedem cautela antes que se tire qualquer conclusão do tipo.
"Penso que há que se tomar muito cuidado com esse tipo de
extrapolação", diz Eduardo Janot Pacheco, astrônomo da USP e da equipe do
Corot (satélite europeu caçador de planetas, rival do Kepler).
Ele
aponta que há muitas restrições à detecção de planetas pequenos em órbitas
largas para levar a sério as estatísticas. "Temos de esperar a nova
geração de satélites para ter alguma segurança."
SALVADOR
NOGUEIRA
COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
Nenhum comentário:
Postar um comentário